domingo, 23 de julho de 2017

Primeiras impressões sobre o contato com a docência no ensino superior.

Esse ano eu tive a chance de assumir algumas aulas do curso semi-presencial de Ensino de Ciências da USP de São Carlos. Ministrei aulas de três disciplinas, sendo elas, Ensino de Ciências, Didática e Diversidade do Currículo Pós-LDB.

Dentro da minha experiência com ensino, ainda faltava o contato com o ensino superior, sendo que essas disciplinas me deram uma boa bagagem conceitual, uma vez que, os entraves existentes num curso semi-presencial no escopo da graduação são bem mais complexos do que em um curso presencial.

Em um curso semi-presencial, o sistema on-line é de extrema importância, tanto para o educador quanto para o estudante, uma vez que, grande parte da avaliação dos trabalhos e atividades são feitas com o auxílio de uma ponte virtual, em um banco de dados, que conecta o estudante e o corretor.

Devido ao contato atual das pessoas com plataformas interativas, redes sociais e conexão remota de alta velocidade, faz com que o rótulo em relação a um curso à distância ou semi-presencial acabem por criar um engôdo ao primeiro contanto com o curso.

Tanto para o educador, quanto para o estudante, pode parecer que o sistema ou plataforma, garantem uma grande proteção no que tange o desenvolvimento das atividades, entretanto, existem momentos específicos para que as mesmas sejam feitas. As atividades são liberadas à partir de um determinado dia e necessitam que os alunos façam a mesma durante um prazo estipulado. O diferencial disso tudo é que o aluno não consegue conversar com o professor para conseguir negociar e alterar o dia de entrega de uma atividade, havendo assim, uma grande necessidade do mesmo conseguir se organizar para desenvolver um curso superior.

Assim, torna-se claro que um curso semi-presencial, é muito indicado para pessoas que já tiveram algum contato com a graduação, que trabalham dentro de um regime que carece de organização, ou então, que possuem tempo para se aplicarem ao curso dentro dos períodos estipulados para o curso.

Obviamente, os exercícios não ficam aberto durante um único dia durante um período inviável, muito pelo contrário, os mesmos ficam abertos para depósito on-line por alguns dias, ou seja, os mesmo podem ser depositados até mesmo em períodos bastante alternativos. Dessa forma, as desculpas que alunos tentam geralmente dar, referente ao curto espaço de tempo, acabam sendo desconsideradas, uma vez que uma atividade ficar aberto para depósito por um período relativamente longo de tempo.

Um fato muito importante a ser considerado é que algumas vezes uma plataforma pode cair e dessa forma, perder dados que não estava ainda salvos, o que acaba por trazer reclamações, uma vez que as atividades são perdidas. Por isso, é importante que os alunos sempre façam backup do material, tendo em vista que, qualquer sistema on-line corre o risco de cair e sair fora do ar. Essa característica se mostra como um ponto crucial dos entraves desse tipo de ensino.

Por parte do educador, existe uma necessidade intrínseca do acompanhamento das atividades on-line, para compreender a evolução dos alunos e, também, de se manter atualizado referente ao material disponibilizado semanalmente aos alunos, sendo preciso fazer sempre o download dos mesmos, para que dessa forma, caso o sistema caia, o educador tenha salvo todo o conteúdo.

Cabe ao educador também, não só cobrar as atividades presenciais, mas, desenvolver e aplicar aulas durante os encontros. Em outras palavras, o educador possui uma grande responsabilidade em relação ao aprendizado dos alunos , uma vez que, o aprendizado não se dá somente com os vídeos, o estudo on -line, com a leitura de textos e entrega de atividades, sendo que, se não existe um esquema de tutorias, onde alguém trabalhe respondendo às dúvidas dos alunos, o professor necessita sim aplicar aulas e, dessa forma, conseguir suprir todas as questões dos alunos, sendo que, em muitos encontros, as atividades presenciais podem ser deixadas para serem feita em casa e entregues no próximo encontro.

Como resumo da experiência, consegui notar que os entraves de um curso semi-presencial acabam ocorrendo pela falsa comodidade, tanto dos alunos quanto dos educadores, em relação ao sistema, uma vez que o mesmo tem um escopo de praticamente não comprometimento pessoal, devido ao fato do curso parecer ser virtual, já que, o contato e o deslocamento físico, de ambos os sujeitos envolvidos (educador e educando) é quase que inexistente. A necessidade de deslocamento físico, acaba por forçar o aprendiz a ter um pouco mais de responsabilidade em relação ao curso, uma vez que, dentro de uma sala de aula, a tendência é do aluno seguir um período, dia e horário que delimitam o curso, isso faz com que a definição do que é uma disciplina seja mais presente na mente do aluno. Enquanto o aluno se mantém em casa, sem compreender a amplitude do curso que escolheu fazer e, da responsabilidade envolvida no processo, a compreensão referente ao que é uma graduação, acaba por não ser desenvolvida.

Em breve, pretendo trazer algumas informações sobre como é o processo de construção de um curso semi-presencial e quais os conteúdos que apliquei nessas disciplinas da USP aqui de São Carlos.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Um pequeno hiato nas publicações.

Devido ao fato da USP exigir que se curse matérias avançadas na área da química (no mestrado cursei matérias de físico química e atualmente estou cursando Química Analítica Avançada), então estou tendo um pequeno entrave para trazer conteúdo para o blog. 

Além disso, também estou lecionando três matérias (Ensino de Ciências, Didática e Diversidade nas prescrições curriculares para a educação básica pós-LDB n9.394/96) no curso semi-presencial de licenciatura em ciências da USP, onde tenho obrigações curriculares para com meus alunos e a instituição.

Em breve retorno com atividades normais, principalmente trazendo novas aulas e minhas impressões no ensino superior.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Como montar um apoio para o desenvolvimento de uma aula.

Muitos formandos na área de licenciatura em ciências, muitas vezes, se preocupam bastante com a estruturação de suas primeiras aulas. Essa preocupação excessiva, acaba por fazer com que o professor inexperiente cometa alguns erros bastante simples durante a execução de sua aula.

Devido ao fato das ciências naturais dependerem muito de demostrações, o professor acaba ficando com receio de não saber desenvolver uma demonstração específica, seja ela experimental ou mesmo teórica. Entretanto esse medo não surge do professor não acreditar que sabe pouco sobre o conteúdo, mas sim, da falta de confiança em estruturar a aula como um todo.

Dessa forma, hoje trago uma dica para professores mais inexperiente, dica essa que auxilia bastante na composição do discurso da sua aula.

Pense da seguinte forma: 
O professor se posiciona como um interlocutor, semelhante a um vendedor ou apresentador, o qual quer vender um artigo, sendo que, nesse caso, o artigo a ser vendido é o conteúdo disciplinar de uma frente científica. Em outras palavras, quando o professor é inexperiente, ele deve montar um script da aula que vai dar. Consequentemente o professor pode agir em seu discurso como se fosse um ator, uma pessoa que tem uma base formulada por de trás.

Entretanto, como montar um script de uma aula?

Primeiramente, devemos lembrar que a aula não pode ser conduzida no formato de um seminário, ou seja, a aula nem sempre é linear e com fluidez, mas sim, interativa, com aberturas aos questionamentos, seja do professor para com os alunos ou mesmo dos alunos para com o professor. Dessa forma, o script que se monta deve contemplar todos os tópicos da aula, porém, não deve se prender aos aprofundamentos do conteúdo. Em outras palavras, o script vai servir para o professor conseguir montar uma estratégia de como desenvolver a aula.

O script não tem o conteúdo propriamente dito e explícito, mas sim, comporta-se como um mapa, para que o seu executor consiga se situar em qual momento ou situação da aula o professor se encontra.

Assim, um script mostra que, uma aula, deve ser dividida em partes, sendo bastante comum dividir a mesma em uma parte de introdução, onde se tem uma contextualização com a finalidade de explicitar um problema aos alunos, um momento de adentramento na teoria e por fim um clímax, que corresponde a explicação de como se resolver o problema apresentado e teorizado.

Inicialmente, se aconselha montar um script que se encaixe em uma folha só, pois, torna-se fácil a observação de qual o momento que o professor se encontra, entretanto, com a experiência, o script acaba ganhando contornos de um sumário de aula. Essa outra forma de se organizar para a ação de uma aula, se baseia na organização de um mapa, onde ficam explícitos somente os tópicos e títulos que serão abordados.

Abaixo, trago um exemplo, que se situa como um híbrido de script e sumário de aula. Nesse caso, temos um script que montei para uma aula de ensino de ciências, o qual ofereci para uma turma do curso semi-presencial de Licenciatura em Ciências da USP de São Carlos. Nesse encontro, contemplamos duas aulas inteiras, já que é uma turma do curso de ensino à distância (EAD) e, dessa forma, já tinham tido contato com o conteúdo mais extenso em casa.

O tema dessa aula se baseou em Ciência e Conhecimento, ou seja, um contexto bastante inicial para um curso de Ensino de Ciências.


Ciência e Conhecimento 


1) O que é Ciências?
* Definição de Ciências – Ferramenta humana para interpretar (dar um significado cognitivo ao abstrato) fenômenos naturais e, dessa forma, conseguir trabalhar e desenvolver conhecimentos.


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2) O que é Aprender Ciências?
* Definição de Aprender – Conseguir trabalhar com algo, no caso da ciência, se utilizar de uma ferramenta de interpretação do que tange o natural e, dessa forma conseguir desenvolver novos meios de simplificação do dia-a-dia.


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3) O que mudou no ato de aprender Ciências ao longo do tempo? E o que não foi alterado? 
a) Idealismo – Centralização do subjetivo. A verdade se encontra no mundo das ideias, aproxima do pensamento toda .

 a.1) Se inicia com a caverna de Platão e a lógica de Aristóteles (utilização de um empirismo baseado na observação, sem haver a medição de fenômenos). o Jakob Böhme, Baruch Spinoza, Immanuel Kant, Johann Wolfgang von Goethe, Johann Gottlieb Fichte, Friedrich Hölderlin, Friedrich Schelling (século XVII).

b) Empirismo (Positivista) – O conhecimento está na realidade e de lá pode ser extraído por simples indução e observação, via testes, cálculos, modelagens matemática, controle de variáveis. o Se inicia com o trabalho de Descartes (método científico), de Galileu e Bacon.

c) Construtivismo - O construir da ciência (saber) é vinculado às crenças que já trazemos formuladas, ou seja, ninguém é uma tábula rasa, existe a necessidade de se levar em consideração o contato de outros sujeitos na construção do saber. Dessa forma, qualquer forma de cognição, percepção e conhecimento é concebida como construção ativa autônoma de um observador e não como simples reprodução passiva. o Jean Piaget, Kenneth Gergen (responde a Descartes – Estou ligado, logo existo).


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4) O que deve-se valorizar em aprendizado de ciências? E no ensino de ciências?
* A nível de ensino e aprendizado a ciência corresponde a um grupo de formas diferentes para resolução de problemas. Ou seja, as diversas frentes da ciência correspondem a cognições diferentes para um problema em questão.


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5) Existe algum forma de estruturar e administrar o ensino e a aprendizagem de ciências?
* Talvez essa seja a maior questão no que tange o aprendizado desde o início dos tempos.
* Exemplos?


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6) Natureza da ciência? 
* A natureza da Ciência é entendida como um conjunto de elementos que tratam da construção, estabelecimento e organização do conhecimento científico. Isto pode abranger desde questões internas, tais como método científico e relação entre experimento e teoria, até outras externas, como a influência de elementos sociais, culturais, religiosos e políticos na aceitação ou rejeição de ideias científicas.

Notem que esse script indica que a aula possui 6 grandes questões (sublinhadas em amarelo). Também é possível notar que cada grande pergunta possui ao menos uma resposta objetiva (sublinhada em verde). E ainda, dentro de cada resposta objetiva temos alguma contextualização ou explicação da própria resposta (sublinhadas em azul). A ideia de se destacar os tópicos com cores, números, símbolos e tabulações, se mostra uma excelente estratégia para a organização da aula. 

Entretanto, com o passar do tempo, as explicações (texto sublinhado em verde) que os professores mantém no script acabam perdendo um pouco sua função, uma vez que ocupam espaço demais nesse mapa e, com isso, o script vai alterando sua forma, principalmente no que tange ao tamanho da fonte do texto, uma vez que, quanto maiores forem as letras, mais simplesmente o professor vai se encontrar em sua organização. Um fato importante a ser lembrado é que o script é um instrumento de apoio, que pode ficar sobre a mesa durante a aula, entretanto não é nenhum crime o professor segura-lo durante o decorrer da aula, já que, o professor tem que estar à vontade durante o exercer de sua função, ao ponto de toda falta de confiança ser suprimida pelo uso de uma ferramenta de apoio.

Dessa forma podemos reorganizar o script, minimizando seu tamanho, deixando explicito somente os principais tópicos e suas objetividades. Como podemos ver abaixo:

Ciência e Conhecimento 


1) O que é Ciências?
Interpretar fenômenos naturais

2) O que é Aprender Ciências?
Novos meios de simplificação do dia-a-dia.

3) O que mudou no ato de aprender Ciências ao longo do tempo? E o que não foi alterado? 
a) Idealismo – Centralização do subjetivo.
 a.1) Caverna de Platão e a lógica de Aristótele
b) Empirismo (Positivista) – O conhecimento está na realidade
c) Construtivismo - Crenças que já trazemos formuladas

4) O que deve-se valorizar em aprendizado de ciências? E no ensino de ciências?
Cognições diferentes para um problema em questão.

5) Existe algum forma de estruturar e administrar o ensino e a aprendizagem de ciências?
Maior questão no que tange o aprendizado.
* Exemplos?

6) Natureza da ciência? 
Construção, estabelecimento e organização do conhecimento científico.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

O mundo acadêmico é para qualquer um?

Atualmente, estou em um ciclo de expressar algumas opiniões por aqui e, faço isso por motivos simples. O primeiro motivo se baseia no fato de estar inserido nas burocracias do doutorado, onde tenho que fazer matérias específicas e também assistir palestras, além de escrever projeto de pesquisa, participar de reuniões, ler artigos, adentrar em projetos e até mesmo dar aulas no nível superior, o que acaba me atrapalhando um pouco na produção das vídeos aulas.

O segundo motivo, se dá por um momento onde muitas pessoas acreditam ter conhecimento para falar sobre diversas frentes, uma vez que, com diversos meios de comunicação e as redes sociais, cria-se uma maré de opiniões que não tem fundamentos teóricos, entretanto, ricamente embasada em fundamentos políticos.

Então, após essa explicação, vamos entrar no conteúdo que pretendo abordar nesse texto.


Fazer faculdade e ter um diploma é essencial? 
Essa pergunta é extremamente importante e deve ser tratada com muito cuidado, para que, não se crie generalizações e ou mesmo "preconceitos".

O conhecimento deve sempre ser tratado como um evento natural na vida de uma pessoa, sendo que, o mesmo vai se construindo ao redor de experiências cotidianas e obviamente de eventos induzidos para que o conhecimento seja desenvolvido. Dessa forma, tudo o que necessita ser induzido para que o conhecimento seja desenvolvido frente a uma área mais abstrata, necessita de um tutor, uma vez que, a simples observação de um fenômeno não surtirá efeito.

Um exemplo disso é se pensarmos no homem primitivo como abordei no vídeo sobre o desenvolvimento dos relatórios (Link do vídeo), onde inicialmente havia necessidade de se utilizar dos sentidos para identificar um observável, ou seja, se um pássaro comia uma fruta e o hominídeo o visse comendo, obviamente a probabilidade daquilo ser comestível era muito grande. Entretanto, compreender o que tem naquela fruta e, dessa forma, ter certeza que algum componente da mesma é bom para a saúde, esse já é um conhecimento que depende do desenvolvimento de técnicas e metodologias. 

Fica bastante claro que existem níveis e tipos diferentes de conhecimento, ou seja, é necessário que o indivíduo se aplique em busca de novas formas de abstração, para que consiga desenvolver um arcabouço com a finalidade de expandir seu universo de conhecimento. Em outras palavras, o conhecimento só pode ser expandido se o indivíduo o buscar, passando pelos níveis, desde o mais simples, que se baseia no caráter sensorial, depois pelo senso comum e por fim no conhecimento abstrato.

Assim o conhecimento não é algo impositivo, mas sim, algo a ser buscado pelo indivíduo, entretanto, que deve sim ser incentivado nos níveis iniciais, onde a abstração ainda é bastante simplória. Com a posse dessa ideia, podemos determinar que, o início do aprendizado básico existe uma necessidade do responsável pela formação de uma criança apresentar o conhecimento como algo a ser conquistado e não como algo obrigatório. Obviamente, na maioria das vezes isso não ocorre, sendo que, a escola acaba por ganhar a posição de formadora do conhecimento. 



Repassar para a escola a função de formadora do espírito científico e  muitas vezes, também, o caráter moral, aos indivíduos em formação, é um grande erro por parte dos responsáveis, uma vez que, a escola somente tem a função (pelo menos era assim em princípio), de servir de tutoria frente aos conteúdos mais abstratos e que necessitam de uma formação cognitiva específica. Dentro do escopo das diversas matérias existentes no currículo escolar, as mesmas tem como objetivo trazer novas formas de pensar e apresentar ao indivíduo informações e formas cognitivas de trabalhar frente a um problema comum. Isso acaba por despertar o que chamamos de vocação no que tange à escolha profissional.

Com a formação do espírito profissional do indivíduo, o mesmo consegue determinar qual área do conhecimento se interessa ou mesmo possui maior facilidade. Entretanto, como foi dito anteriormente, são diversas as formas de conhecimento e inteligência. Dessa forma, dependendo da área, nem sempre existe a necessidade de um nível superior para aplicar a vocação profissional. Um exemplo bem fácil de se imaginar é com pessoas que trabalham com algum comércio, na grande maioria das vezes essa pessoa não tem um diploma em administração ou mesmo em economia, porém, consegue ter bons resultados. O mesmo se aplica a pessoas que trabalham por exemplo com produtos de origem agrícola, muitos não possuem graduação em engenharia agrícola ou cursos semelhantes. Um garçom, um auxiliar administrativo, um motorista... dentre muitas outras funções, que são importantes para o convívio em sociedade, não precisam de um curso superior para que exerçam suas funções. Por outro lado, fica claro que para exercer qualquer função, o indivíduo tem que buscar algum conhecimento, mesmo que seja um simples treinamento.

Logo, fica claro que nem todas as pessoas precisam fazer faculdade para serem felizes e conviverem bem em sociedade, existem diversos caminhos a serem traçados, o que responde a pergunta inicial desse texto. 

Limitar as carreiras dentro de uma necessidade de nível superior acaba por criar diversas formas de preconceitos, sendo que, esses preconceitos se baseiam principalmente no caráter salarial. Criou-se uma importância tão grande ao diploma de nível superior que um indivíduo que o possui, devido à sua qualificação, faz com que o piso salarial de sua categoria seja extremamente alto.

Nesse ponto entramos no caráter mais importante desse texto e, daqui para frente, torna-se importante que o leitor tenha mente aberta para conseguir compreender o que se expõem. 

Um grande problema que vivemos no mundo acadêmico hoje, é o fato de que no Brasil está ocorrendo um fluxo exorbitante de pessoas no nível superior. Isso pode parecer algo muito bom, porém, é um grande engodo. Imaginem que existe uma linha bastante tênue entre qualidade e quantidade, sendo que, quanto mais pessoas adentram à academia, menos qualidade se tem, uma vez que, as instituições não possuem competência e instalações para trabalhar com tanta gente. 

No ano de 2007 foi iniciado um projeto conhecido como REUNI (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), que tem como objetivo repassar verba para aumentar o número de vagas nas universidades federais e até mesmo auxiliar na criação de novos campus pelo Brasil. Entretanto, esse projeto, que faz parte do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), acabou aumentando bruscamente o número de alunos e dessa forma, diminuindo o número de corte no vestibular para diversos cursos, ou ainda, permitindo que os cursos não finalizassem o total de número de vagas, havendo a necessidade de crer por várias listas de espera, tendo a finalidade de completar um curso. 


O grande problema disso é que muitos alunos entram já perdendo provas e trabalhos, o que muitas vezes prejudica muito o curso. Eu tive vários colegas de curso que entraram com matérias em desenvolvimento avançado, ou seja, perderam experimentos, relatórios, trabalhos e dessa forma se prejudicaram, pois, não podiam refazer os mesmos. Como consequência disso, esses alunos acabaram se complicando em matérias que eram pré-requisito para matérias de outros semestres. Dessa forma, em vez de fazerem o curso em 5 anos (Licenciatura em Química da UFSCar), fizeram o mesmo em muito mais tempo, chegando ao ponto de quase jubilarem. Ocorreu também o fato de outros alunos também não conseguirem ficar no curso e abandonar o curso.

Abandonar um curso é algo péssimo para a instituição, pois, existe toda a burocracia de inscrição do aluno e se o mesmo, entrar em um curso de abrangência das Ciências Naturais, o custo mensal do indivíduo é bastante alto, pois o consumo de reagentes e aparelhos laboratoriais é caríssimo. Nesse escopo, ter um gasto alto e não garantir a formação do aluno é um déficit absurdo.

Duplicar o número de vagas de alunos nas universidades federais também prejudica as matérias, uma vez que, nem sempre existem anfiteatros para receber tantas pessoas e assim desenvolver uma aula. Para o docente também se mostra algo extremamente complicado, uma vez que não existe possibilidade de marcar horários de dúvidas individual, prejudicando assim o aspecto educacional da matéria. A nível social, para conseguir receber e sustentar o dobro de pessoas, as universidades tem que garantir um número grande de alojamentos, bolsas, distribuição de alimentação, além de serviço básico.

Sabendo ainda que, pelo motivo de permitir um grande número de pessoas na universidade, as listas correm mais, permite-se assim, a entrada de pessoas que não estão ou não são preparadas, ou que ainda não possuem a vocação profissional para um determinado curso. Isso também é prejudicial, pois a longo prazo ocorrem abandonos de curso, gastos que não eram necessários, desvalorização do curso, matérias perdendo qualidade e, como consequência, a formação dos indivíduos se torna bastante desqualificada. 

Em muitos cursos, a ementa curricular tenta melhorar a formação dos alunos, com o adentramento de matérias básicas, as quais os alunos já deviam dominar, entretanto, preencher espaços da ementa com conteúdo básico acaba culminando em cursos mais longos ou mesmo em cursos que retiram matérias importantes, pois, consideram ser complexas demais para grande parte dos discentes. Dessa forma existe uma formação mais desqualificada dos indivíduos.

Em resumo, o que podemos extrair do que ocorre hoje nas universidades federais brasileiras (estou trazendo isso sem propaganda política, sem querer justificar algo a nível de esquerda ou direita e sem querer criar algum nível de preconceito), é que se preocupa mais com quantidade do que com qualidade. E essa quantidade colapsa diretamente com postos de trabalho, uma vez que, a pessoa se forma, mas, concorrendo com ela por um único posto de trabalho, existem mais uma centena de outras pessoas, que são "qualificadas" e possuem um piso salarial alto. Como consequência imediata disso são "profissionais" trabalhando em frentes completamente opostas à sua formação.

No meu ponto de vista, todas as profissões devem ser valorizadas, assim como as diversas formas de inteligências que são necessárias para desenvolver tais atividades. Como educadores precisamos alertar os indivíduos que estão em formação que existem diversos caminhos, e a existência de diversas matérias na ementa curricular da escola mostra bem isso, ou seja, o caminho acadêmico não é o único ambiente possível para a sobrevivência profissional, entretanto, existem outras formas de se buscar um futuro, desde que seja uma ocupação honesta e que não prejudique ao próximo. É mais do que óbvio que deve ser exposto claramente que, o único caminho a ser seguido é o esforço e a necessidade de estudo, em outras palavras, a necessidade individual de busca do profissionalismo. 

Seria ideal que os órgãos de gerencia da educação no Brasil garantissem uma formação básica excelente e que levassem os alunos poderem escolher se querem vida acadêmica ou não, ou seja, que garantissem a possibilidade dos alunos tomarem a decisão se querem fazer ensino superior. Isso evitaria manobras políticas que visam somente a quantidade e não qualidade. Geralmente essas manobras políticas somente tem como função gerar números, para dizerem que durante o mandado foi um período de intensa entrada no nível superior. Ou seja, fazem isso por pura propaganda, tendo finalidade de angariar mais votos.

Ainda dentro do meu ponto de vista, todas universidades, sejam estaduais, federais e até as particulares, deviam levar em consideração o currículo escolar dos ingressantes, tendo como finalidade conseguir classificar quem se mostra apto, desde os níveis escolares mais baixos, a entrarem em um determinado curso. Para as vagas remanescentes haveria um vestibular de nível médio a difícil, com finalidade de determinar quem tem qualidade, mesmo não sendo reportado no histórico, pois como disse anteriormente, existem diversas formas de inteligência e, mesmo sem notas excelentes dentro de uma área do conhecimento, é direito de qualquer um querer buscar uma nova forma de conhecimento, por isso, existe a necessidade do vestibular, com nota de corte e limite de vagas em cursos (se é que sobrariam devido a análise de currículo).

Obviamente essa minha ideia somente seria aplicada de uns anos para frente, já que deve ocorrer uma geração inteira de formandos ainda, além de uma mudança no currículo educacional. Porém, evitaria a entrada de um grande contingente de pessoas que não possuem a vocação dentro uma frente, mas que somente escolheram prestar pelo fato da lista correr muito, ou de haver um grande número de vagas, ou da nota de corte ser pequena, ou ainda de entrar no curso para tentar transferência.

Explicando melhor aos alunos e reformulando a forma como o ensino superior é exposto, quebrando o paradigma de que você não pode ser nada sem um diploma universitário, torna-se muito mais saudável a vida de todos. Ou seja, no meu ver, o mundo acadêmico não é para qualquer um.

Em breve pretendo trazer um texto referente a patologias que são desenvolvidas durante o ensino superior, devido aos problemas emocionais que o paradigma "Você não é nada sem um diploma" trás nos diversos níveis acadêmicos. 

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Como se preparar para as burocracias da pós-graduação no ingresso do mestrado ou doutorado.

Atualmente iniciei o doutorado na USP, mais especificamente no IQSC, entretanto, não estou mais trabalhando na área de pesquisa aplicada, onde fiz meu mestrado em química teórica (para quem não sabe o que é química teórica em breve farei um texto falando sobre essa área, mas fica a priori a explicação resumida: Química Computacional), sendo que hoje retornei para a minha área de formação mais específica, que é a licenciatura.

Meu projeto envolve o estudo do desenvolvimento do espírito científico dentro de uma abordagem de ensino de química, usando maquetes científicas no âmbito de ambientes não-formais. Mas, não quero ficar falando sobre meu projeto propriamente dito. Hoje eu quero explicar sobre as burocracias iniciais que existem na estrada no universo da pós-graduação.

Essa transição entre graduação e pós-graduação pode ser muitas vezes traumática ao ex-graduando, pois a cobrança frente ao caráter profissional começa a ser mais recorrente, ou seja, o status de simples aluno começa a ser ultrapassado e a pessoa se vê na necessidade de expor suas competências. Dessa forma, é importante ao graduando começar a pensar se quer fazer pós-graduação já nos últimos anos do curso. Em outras palavras, é interessante o aluno já ir pensando qual frente lhe apetece mais.

Além disso, também é importante o estudante buscar em seu currículo quais são os melhores trabalhos que produziu durante a graduação. Dessa forma, é interessante manter o currículo sempre atualizado, para que não perca tempo durante a inscrição para o mestrado ou doutorado direto. Na minha opinião é muito bom usar a Plataforma Lattes (Em homenagem ao físico brasileiro César Lattes) que é um site da CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Nessa plataforma o usuário disponibiliza publicamente o próprio currículo, expondo desde participação em eventos científicos, até mesmo artigos publicados e projetos desenvolvidos. É uma forma para alunos de fim de curso, além de organizar seus dados, para depois usarem os mesmos na inscrição de uma pós-graduação, também é uma ferramenta de maior conhecimento sobre profissionais da área escolhida.

Figura 1: Entrada do site da Plataforma Lattes.

Voltando agora às características específicas da pós-graduação, os cursos brasileiros buscam garantir a internacionalização dos cursos, dessa forma, além de organizar a empregabilidade também é imprescindível se preparar em uma língua estrangeira, sendo que, é de praxe o inglês. 

Alguns programas de pós-graduação em ciências naturais (como no caso o IQSC), cobram já na matricula para a pós-graduação (seja mestrado ou doutorado) a proficiência em inglês, em outras palavras, após ter passado na prova de classificação, seja com bolsa ou sem bolsa, o aluno tem que comprovar já na matrícula que tem competência em inglês. Em geral, as provas de inglês para o mestrado são bem simples e, buscam garantir que o ingressante tenha ao menos a capacidade de ler e interpretar um texto em inglês. No IQSC é aceito a modalidade TEAP (Test of English for Academic Purpose) para ingressantes no curso de mestrado, que se baseia em leitura de texto e questões sendo respondidas em português. Entretanto no doutorado o IQSC cobra como mínimo a modalidade WAP (Writing for Academic Purposes), sendo que nesse tipo de prova todas as questões são em inglês, os textos são em inglês e as respostas devem ser em inglês. 

Em outras instituições, por outro lado, já se cobra o TOEFL (Test of English as a Foreign Language), o qual busca uma análise mais aprofundada, onde o aluno faz testes desde escrita e leitura, até mesmo aos testes de interpretação de textos falados. O TOEFL geralmente é mais cobrado a nível de doutorado, mas como critério inicial é importante o aluno se preocupar com o tipo de prova de vigente no programa do curso escolhido. Em várias instituições, como por exemplo na pós-graduação do Departamento de Química da UFSCar, a proficiência em língua estrangeira pode ser entregue dentro de um período específico do curso, entretanto, sempre antes da qualificação e da entrega do documento base do projeto.

Dependendo do programa de pós-graduação nem sempre é preciso fazer uma prova escrita para se ingressar no mestrado ou no doutorado. No IQSC, para que se inicie o curso de mestrado há a necessidade de se fazer uma prova de química geral, sendo que existe número mínimo e máximo de ingressantes, ou seja, o concorrente precisa alcançar um valor mínimo de pontos para conseguir ingressar no mestrado. Tanto para o mestrado quanto para o doutorado, a prova é a mesma, sendo que, por ser uma prova desenvolvida pelos professores do instituto, ela pode variar em número de questões, se será discursiva ou de múltiplas escolhas, se é em português ou em inglês. Em outros programas é mais comum uma prova discursiva, entretanto também pode ocorrer entrevistas e análise de currículo como critérios únicos de seleção. A análise de currículo aliada de uma prova se mostra  o mais comum em todos os programas de pós-graduação, entretanto é muito importante ler o edital com cuidado. No curso de doutorado do IQSC existe ainda a possibilidade de fluxo contínuo, ou seja, não é necessário o ingressante fazer a prova de química (que nesse caso tem maior função de classificação para bolsa), sendo que, somente é feita a análise do currículo do ingressante juntamente com sua proficiência em inglês.

Quando se determina que a pós-graduação é o caminho a ser tomado, é interessante o aluno durante a graduação mesmo, já ir conversando com algum professor e desenvolver algum projeto de iniciação científica, para que dessa forma, além de gerar produções para o currículo, também consiga compreender se uma determinada área realmente é a que se tem mais aptidão. É extremamente comum mudanças de área dentro da pós-graduação, pois a pessoa não se preparou muito bem. No meu caso, eu resolvi ir trabalhar com química teórica, pois no meu curso de licenciatura não foi oferecida a frente de quântica, então achei interessante para meu currículo procurar algo que fortalecesse esse viés. Geralmente ir na direção de algo que você não domina é algo bastante complicado, pois, o universo da pós-graduação cobra uma posição mais profissional do indivíduo e, na maioria das vezes, quando ocorre essa modificação de frente, o aluno acaba ficando perdido ou seu trabalho demora para gerar frutos. 

Então, a busca durante a graduação por uma área a ser seguida é de extrema importância, pois ajuda a preparar o currículo, principalmente para candidatos que escolhem a opção de doutorado direto. Para essa modalidade, existe a necessidade de um currículo muito forte, com publicações de artigos durante a graduação (principalmente como primeiro autor), além de possíveis experiências no exterior, bons estágios e até mesmo com desenvolvimento de patentes. Além disso o currículo acadêmico deve ser impecável sem reprovações e excelentes notas. É claro que isso é bastante difícil, mas não impossível, se não, a modalidade nem mesmo existiria (e nem é tão difícil encontrar pessoas fazendo doutorado direto nas universidades).

Depois disso tudo, alguns programas exigem que o ingressante entregue em curto período de tempo o projeto de pesquisa, o qual é analisado rigorosamente. Nesse caso se o mesmo não for aprovado, o ingressante perde a vaga e, isso não é tão raro, sendo que existem vários casos de alunos que ingressaram no programa e perderam a vaga pois não se prepararam para a escrita de um bom projeto. Por isso, é importante buscar contato com professores antes mesmo de fazer a prova da pós-graduação ou de qualquer processo seletivo. Isso é importante pois o docente pode ter algum projeto sendo escrito, ou mesmo já escrito, o que pode ajudar muito o ingressante. Eu quando entrei no mestrado não tive que escrever o projeto, pois meu orientador já tinha um pronto para se iniciar o trabalho, tanto que, mal entrei no mestrado e já comecei a trabalhar a todo vapor. Já no doutorado é de praxe que o aluno escreva sozinho seu projeto, uma vez que se espera um maios domínio desde a escrita científica, levantamento bibliográfico e principalmente na capacidade argumentativa no que tange a defesa de uma ideia.

Um projeto de pesquisa inicialmente se baseia em uma ideia do que se pretende trabalhar, sendo que o mesmo é dividido em pelo menos cinco partes: Resumo, Introdução, Estado da Arte, Metodologia e Referencias. Em geral os programas cobram umas vinte páginas, incluído capa e a bibliografia. A parte de bibliografia, ou os referenciais teóricos está ligado diretamente ao estado da arte, uma vez que nessa parte o autor cita as principais fontes e trabalhos mais modernos dentro da pesquisa que deseja desenvolver. A critério de projeto de pesquisa é comum serem mencionadas umas trinta referências bibliográficas, o que a nível de mestrado corresponde a praticamente um terço do que se tem dissertações na área de ciências (notem que isso é uma característica bastante específica, outras frentes como humanas e biológicas isso pode variar muito). Algo que pode ser citado no projeto de pesquisa são os resultados esperados, o que trás ao leitor uma impressão de maior coesão e solidez frente a proposta de pesquisa, sendo que esse tópico é adicionado entre a metodologia e as referências, pois concatena o forma que a pesquisa será desenvolvida, o conjunto de técnicas e os referenciais teóricos.

Além do projeto de pesquisa, dentro da área de pesquisa aplicada em ciências naturais e engenharias, é bastante comum os programas de pós-graduação cobrarem uma busca por patentes referente ao seu projeto de pesquisa. Em outras palavras, após o ingressante entregar sua proposta de pesquisa existe a necessidade de comprovar que ela é inédita dentro do escopo da pesquisa, sem que haja algum plágio ou mesmo patentes iguais. Para se evitar isso existem diversas plataformas de procura de patentes, sendo o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) a principal no ambiente nacional. Outras

Figura 2: Entrada do site da plataforma de pesquisa por patentes do INPI.

Alguns outros exemplos de plataformas de pesquisa por patentes, mas no âmbito internacional são:

Podemos finalizar todo o caráter burocrático do ingresso na pós-graduação com um resumo:
1 - A pós-graduação se inicia na graduação:
A pessoa que pensa em fazer pós-graduação tem que se preparar na área que escolheu, desde a parte específica para a seleção (seja prova ou entrevista) até mesmo na língua estrangeira, além disso a busca por contatos com professores que possam orientar na graduação e assim dar continuidade ou ajudarem na escolha do caminho a ser trilhado é imprescindível.

2 - Língua estrangeira:
Não perca tempo para iniciar os estudos em uma língua estrangeira (eu cometi esse erro), principalmente o inglês dentro das ciências naturais e engenharias. A maioria dos eventos que ocorrem no ambiente acadêmico são em inglês, além do que, os artigos das revistas mais importantes, mesmo que não seja americanas ou inglesas, costumam publicar em inglês, pois essa é a língua mais comum dentro do universo acadêmico e científico.

3 - Ingressando na Pós-Graduação:
A primeira coisa a ser feita quando se escolhe fazer uma pós-graduação é ler atentamente o edital, para se ter noção do conteúdo a ser cobrado na seleção, qual o tipo de seleção ocorrerá, se a proficiência pode ser entregue depois da matrícula, se o projeto tem que ser entregue na matrícula, se a seleção é paga, se a prova ocorre somente no campus da instituição, quais são as áreas que o ingressante pode se inscrever, quais documentos devem ser separados para a inscrição e para a matricula. Ou seja, deve-se estar preparado desde o início para as burocracias, sendo interessante isso pois, em geral, os documentos são sempre os mesmos para diversas instituições (caso o aluno queira prestar prova em mais de uma instituição).

4 - Projeto de Pesquisa:
O projeto de pesquisa é intimamente ligado com o contato inicial com o orientador, por isso, é importante antes mesmo de iniciar o processo burocrático conversar com professores de universidades (caso o ingressante quiser prestar a seleção de pós-graduação em mais de uma instituição), e perguntar quais tipos de projetos o docente está interessado em desenvolver no período, ou se já tem alguma proposta iniciada e precisa de alguém para continuar o projeto, ou ainda mesmo se concorda em desenvolver uma proposta do próprio aluno. E também é claro, adequar o projeto dentro de uma busca de patentes, reescrevendo o documento quando necessário para diferenciar de possíveis projetos já trabalhados.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Ferramentas de procura e acesso a artigos científicos

O mundo científico é extremamente dinâmico, sendo que diariamente temos novos dados sendo publicados, uma vez que, a divulgação é uma parte intrínseca da produção científica. Produzir dados e expô-los  ao público, muitas vezes pode ser algo estratégico, tendo como objetivo angariar financiamento para uma determinada pesquisa. Entretanto, esses dados geralmente visam um público alvo, que no caso é o público científico, o que acaba por encarecer a divulgação, uma vez que, quem estiver de fora do universo acadêmico, em geral, tem que pagar para conseguir acesso.

Muitas pesquisas tem como objetivo, produzir dados que não buscam divulgação imediata, já que são protegidos por patentes e aplicações militares, sendo que, os dados somente serão divulgados depois de anos que a tecnologia envolvida tenha sido consolidada. Dessa forma a informação acaba ganhando teor de divulgação tardia, e mesmo assim, ainda se tem a cobrança sobre a mesma. 

Os jornais, periódicos e revistas científicas são classificados baseados no público e na quantidade de acessos que as mesmas tem, logo, uma pesquisa se mostra relevante se for aceita ou financiada a ser publicada em revistas de grande impacto. Como uma consequência, os autores ganham relevância baseada no número de acessos que sua publicação tem, isso é chamado de "Índice H". Com uma pontuação alta, o autor ganha importância de publicação, o que ajuda o mesmo a publicar mais vezes em revistas de grande impacto. Em outras palavras, o pesquisador que gera bons artigos, acaba sendo premiado pela quantidade de acessos, uma vez que seu nome tem relevância dentro do universo específico onde ele atua.

O Índice H foi proposto em 2005 por Jorge E. Hirsh, um físico Argentino, e se baseia no número de artigos produzidos por um autor e na quantidade de citações dos mesmos. Isso se dá da seguinte forma:

Um pesquisador que escreveu 5 artigos e cada um desses artigos teve 5 ou mais citações, faz com que o Índice H do mesmo seja igual a 5, entretanto se um pesquisador tem uma única publicação com 500 citações, faz com que o pesquisador tenha Índice H equivalente a 1, já que possui somente 1 único artigo relevante. 

Esse último caso se mostra uma falha no que tange o Índice H, uma vez que não consegue medir muito bem qualidade, mas sim, se concentra mais em quantidade. Isso é problemático pois acaba por criar um rótulo frente a pesquisadores em início de carreira ou mesmo os que estão em áreas que levam mais tempo para se produzir artigos, como é o caso das áreas de estudo comportamental.

Então, sabendo que os artigos são de extrema importância no universo acadêmico, existem sites especializados em trazer de forma pública artigos para toda a comunidade de forma gratuita. Obviamente, alguém pagou para baixar o artigo, como é o caso da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) aqui no Brasil, sendo que essa instituição de fomento garante para os pesquisadores, professores e alunos das universidades públicas consigam ter acesso gratuito aos artigos de todas as revistas de publicação científica. Porém, se os artigos ficarem presos dentro do universo acadêmico, não se promove uma democratização do conhecimento científico mais especializado. Mesmo que grande parte do conhecimento científico mais especializado não seja "tão útil" para o público em geral, poder acessar um conteúdo científico de maior relevância pode fomentar o crescimento do espírito científico de alguém que jamais teria a chance de ler um documento em linguagem científica.

Para artigos ou trabalhos em português, publicados em revistas brasileiras ou instituições, a grande maioria pode ser encontrado no Google Acadêmico, uma vez que as revistas não cobram pelo download ou acesso aos documentos. Um fato interessante dessa ferramenta é que se pode procurar os artigos de revistas internacionais também e, caso o usuário tenha possibilidade de pagar, ele pode acessar o site da revista e "comprar" o artigo ou o acesso (desde que não esteja em uma universidade, pois nesse caso o acesso é garantido, pois como já foi dito anteriormente, existem instituições que garantem isso às universidades públicas). 

Entretanto, o interessante se dá para autores que se encontram na fase de citações do seu artigo, dissertação ou tese, já que, existe junto ao nome do artigo ou trabalho um link que já traz a citação do mesmo de diversas formas, uma vez que, dependendo da instituição ou revista, existem diferentes maneiras de se citar um trabalho em uma lista de referências. Essa ferramenta de pesquisa funciona usando o nome do trabalho, ou dos autores, ou mesmo de algum tema o qual seja interessante, ou ainda o número de identificação do trabalho (DOI - Digital Object Identifier). Por exemplo, desejo um trabalho sobre características periódicas dos elementos da família do Carbono, é só escrever na caixa de texto algo como "Família do Carbono" ou "Carbon Family", o que vai lhe resultar em um grande número de trabalhos que podem ser pesquisados.

O exemplo que darei a seguir é referente a minha dissertação de mestrado, cujo o título é:



No Google Acadêmico você encontra o link que vai levar até o banco de dados da USP, onde se encontra minha dissertação hospedada. Na imagem abaixo temos os diversos objetos que podem ser acessados referente esse trabalho.


Quando se clica no link Citar temos:


Além dessa boa ferramenta do Google, a qual ajuda muito na escrita de teses e dissertações, existe também um site hospedado em uma plataforma Russa, chamado Sci-Hub, o qual fornece uma caixa de texto onde o usuário pode digitar o DOI ou a URL de onde se encontra hospedado o trabalho. Mesmo sendo uma plataforma Russa e existindo algumas coisas escritas em alfabeto cirílico, não é nada que prejudique a pesquisa.

O interessante desse site é que ele na realidade é um grande banco de dados, onde os usuários podem compartilhar artigos e deixa-los salvos nesse banco para que outras pessoas possam utiliza-los de forma gratuita.


Para quem precisa desenvolver trabalhos, porém, não tem possibilidade de se deslocar até uma faculdade pública, ou não está vinculado à mesma, conseguir unir essas duas ferramentas de pesquisa, no caso o Google Acadêmico e o Sci-Hub, se mostra algo muito bom e útil no que tange produção científica e democratização da produção científica.

terça-feira, 7 de março de 2017

Desmistificando a Ciência: Natureza e Ciência não são a mesma coisa.

Caros leitores, estudantes e professores, dentro do universo da ciência encontramos diversas verdades absolutas, as quais são consideradas básicas para que o todo faça sentido. Um exemplo bastante simples para quem trabalha com física e química são as leis da termodinâmica, as quais se, forem violadas, teremos diversos problemas conceituais a nível de validação de fenomenologia.

Isso ocorre, devido ao fato de que, a ciência não é o próprio fenômeno, mas sim, um modelo de interpretação do que vemos (num sentido de captar dados) referente ao fenômeno. Em outras palavras, a ciência é uma linguagem interpretativa.

Talvez fique mais claro se pensarmos da seguinte forma:
"Imagine que encontramos um livro escrito em grego, entretanto, somente falamos português e, nunca tivemos contato com o alfabeto grego, então, esse livro será uma grande questão em aberto, sendo que, dificilmente iremos compreender o que se relata naquelas folhas. Agora, imagine que, somente as palavras estão em grego, mas, o alfabeto o qual essas palavras são escritas seja o mesmo que usamos diariamente, obviamente, conseguiríamos pronunciar alguns sons, ou ao menos imaginar que tais palavras tenham tal som. Dentro desses dois modelos de livros, ainda é impossível uma compreensão simples de quem jamais teve qualquer contato com a língua grega, porém, o segundo modelo se mostra mais compreensível."

Figura 1: Texto em grego.

A ciência sempre tenta buscar caminhos mais curtos para a cognição, sendo que, sempre em uma comparação entre duas ou mais explicação para um mesmo fato ou fenômeno, aquela que for mais simples, tende a ser a correta em quase todos os casos. Essa ideia é conhecida como a Navalha de Occan, e foi proposta por um frade franciscano chamado Guilherme de Ockham (entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem - as entidades não devem ser multiplicadas além das necessidades).

Existem casos na ciência, em que nem sempre a explicação mais simples parece ser a mais correta, entretanto, o fato de não levarem aos resultados esperados ou observados, se dá devido a teoria estar usando um modelo errado, em outras palavras, se está tentando ler um livro em grego usando um decodificador em português.

Um grande exemplo de problema interpretativo, se deu com a descoberta do elétron e de seus comportamentos que não eram explicados com a física newtoniana. Devido ao fato do modelo atômico baseado na movimentação circular dos elétrons em torno do núcleo, falhar dentro da física newtoniana, uma vez que, uma carga negativa seria atraída em direção ao núcleo positivo, descrevendo uma trajetória em espiral e, levando ao eminente choque entre elétrons e núcleo e, causando a destruição do átomo não ser possível, houve a necessidade de se elaborar uma nova forma interpretativa para esse fenômeno. Assim, ao longo de muito tempo de  pesquisas se determinou que os elétrons possuem quantidades de energia, que os mantém em uma determinada região do espaço, que não seja o núcleo. Dessa forma, tivemos o desenvolvimento de uma área da física, onde, para partículas nanométricas, a física newtoniana não era a regra, ou seja, surgiu um novo modelo interpretativo, nesse caso a quântica.

Torna-se claro que, para a ciência explicar fenômenos, existe uma grande necessidade de mudança de modelos sempre que necessário, sendo que, esses modelos muitas vezes somente funcionam dentro de condições extremamente específicas de trabalho e observação, como no caso quântica, a qual, prioriza um universo tão minusculo que pequenas alterações (que para um simples observador, jamais seriam percebidas), causam eventos de imensa complexidade.

Então, caro leitor, o que compreendemos por ciência, na realidade é um grande conjunto de modelos, que resultam em um modelo maior, o qual, é preparado para dar respostas que sejam interpretativas para nossa capacidade cognitiva frente ao abstrato. Logo, podemos caracterizar que, o ser humano tem ou desenvolveu naturalmente alguns sensores para que consiga decodificar os dados. Esses sensores são baseados principalmente nos sentidos da fala, audição, visão e tato. Ou seja, como a capacidade de se expressar oralmente (fala e audição), ler e escrever (visão e tato), mas não no paladar e no olfato, que são dois de nossos sentidos que foram diminuídos ao longo da história da espécie humana.

Figura 2: Os cinco sentidos - Falo mais sobre isso no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=5sF19dVOLj8

Dessa forma, toda a informação que buscamos extrair da natureza, tem como objetivo, ser decodificada em dados que sejam assimiláveis pelos nossos principais sentidos, o que nos leva a necessidade da ciência ser um modelo preparado para gerar informação para esses sensores naturais.

Obviamente que, toda a informação então, seja passada de forma visual e audível, como no caso de uma aula, sendo o professor o agente que escreve na lousa e explica a matéria, ou um livro de cálculo que trás a explicação de algo extremamente abstrata como uma função com o auxílio de gráficos, ou ainda, da visualização de um simples fenômeno. Assim, os principais sensores que serão ativados primeiro sempre serão a visão e a audição e, isso se dá, pois ao longo do desenvolvimento do que compreendemos como ciência (ao nível de coisas simples do cotidiano até às abstrações mais complexas do que tange à natureza), o sistema interpretativo foi moldado em torno desses dois sensores, sendo que, a visão se tornou o principal deles.

Tomando por base tudo isso, conseguimos determinar o que é coerente e o que é incoerente dentro desse sistema interpretativo da natureza, uma vez que, conseguimos extrair informações e decodifica-las para um conjunto de dados que são de simples abstração. Entretanto, ainda em muitos casos, existem fenômenos que são trabalhados com algo que foge fora ao senso científico, extrapolando ao fato de haver a necessidade de se criar uma nova área, mas muitas vezes, chegando ao ponto de existir um certo "preconceito" frente ao modelo por parte da comunidade que se diz "detentora do conhecimento". 

Se dizer "detentor do conhecimento" e, se achar apto a dizer se algo é relevante, coerente ou científico, é um grande perigo para um cientista, uma vez que, a ciência é formada inicialmente de questionamentos e não diretamente de postulados. Para que uma verdade seja considerada absoluta, existe a necessidade inicial de se questionar se a mesma é uma verdade e, assim, conseguir se determinar um parâmetro de inquestionabilidade. Dentro desse escopo, surgem os erros atribuídos frente a uma observação, medida ou cálculo, em outras palavras, existem variações que podem ser relevantes ou não para a explicação e validação de um fenômeno ou fato.

Um exemplo de modelo considerado não-científico pela comunidade "detentora do conhecimento", devido ao fato de que esse modelo acaba por extrapolar as características do que se tem provado como verdade absoluta na ciência, é o modelo da Terra Plana. É óbvio que, o planeta Terra possui um formato semelhante a uma esfera e, isso pode ser provado com várias observações simples, como a sombra da Terra na Lua, ou do horizonte não ser contínuo eternamente, além do fato de que uma forma semelhante a uma esfera gasta menos energia e, então a estrutura se torna mais coesa. Entretanto, a teoria da Terra Plana nos trás a ideia de observação baseada no referencial, sendo que, para geocientistas, quando os mesmo rodam cálculo de interpretação de geomorfologia, se a área corresponde até um total de 600 km de extensão, a Terra é considerada plana e, os cálculos dentro desse modelo resultam em valores extremamente coerentes, tanto que, não se usa outro modelo, mesmo sabendo que a Terra não é plana. 

Figura 3: Alusão à Terra Plana
Com base nisso, chegamos a um momento muito importante do crescimento do espírito cientifico e cognitivo de um indivíduo, que é a capacidade de perceber que, a ciência, não corresponde à natureza como uma realidade, mas sim, corresponde às informações colhidas da mesma, sendo que, essas informações se encontram abstraídas dentro de um modelo interpretativo que se mostra cognitivamente simples às capacidades sensoriais (de início) e à capacidade decodificadora (pensamento abstrato) por parte do interpretador. Se mostra mais do que óbvio que, dentro desse modelo, que chamamos de ciência, existem falhas, que são supridas por adendos, ou seja, por formas mais simples de se explicar um fato, que nem sempre vai se mostrar coerente com o que concebemos como verdade absoluta em relação ao modelo proposto. 

Se a ciência não se encontrasse disposta a passar por quebras de paradigma, por modificações de modelos, pela sobreposição de preconceitos dentro do modelo, pelo aceite de postulados que anteriormente foram estudados e questionados, hoje, não teríamos os avanços significativos no que tange ao modelo científico geral.

Então, é função de todo profissional de divulgação científica, professor e pesquisador, garantir às pessoas as informações corretas do que é a ciência e, desmistifica-la completamente do estigma de detentora de verdades absolutas e irredutíveis.