sexta-feira, 10 de maio de 2019

Vamos compreender porque o contingenciamento da verba federal não causa grande clamor popular.

A postagem de hoje é bastante importante, pois irá ajudar com quem não entende bem política vai conseguir ficar mais esclarecido por que o atual governo está tomando uma atitude tão anti-popular quanto o contingenciamento de verba das universidades federais.

Primeira coisa que deve ficar clara, as universidades brasileiras não são todas federais, por exemplo, USP (Universidade de São Paulo), UNESP (Universidade Estadual Paulista), UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), UEM (Universidade Estadual de Maringá), dentre outras, são todas mantidas com verba estadual. Em geral, você consegue identificar facilmente pela presença da letra "E", que representa "Estado ou Estadual" de forma abreviada. Já as federais terão a letra "F" na sua sigla de designação, ou seja, F de federal.

A segunda coisa que devemos entender é que grande parte da verba que fomenta as universidades, sejam elas estaduais ou federais, são proveniente de instituições de fomento, sendo as principais no território nacional a CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), as quais são instituições federais. Entretanto também existe as instituições estaduais, como poe exemplo a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), FAPEMG (Fundação de Amparo à Pesquisa e do Estado de Minas Gerais), FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa e do Estado do Rio de Janeiro), FAPEMA (Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Maranhão), dente outras. 



A ideia não é agora ficar explicando como se dá esse repasse de verbas, mas sim compreender uma abordagem do fato pelo qual a medida da contingencia está em pauta no Brasil. Quem se interessar mais sobre como a pesquisa se desenvolve e como ocorre o repasse de verbas pode dar uma olhada em: CAPES diz que pode cortar bolsas de mais de 93 mil alunos e pesquisadores no segundo semestre de 2019. Nesse texto fica claro que tudo estava previsto, que realmente a ideia de um bloqueio de verbas já existia desde o ano passado.

Como um todo as universidades não são autossuficientes, elas dependem de repasses de verba dos estado ou do governo federal. Sabendo disso, podemos começar a falar de como um governo pensa.

Vale ressaltar que a ideia principal não é ficar falando de governos passados e nem do governo atual, mas sim compreender que essa atitude do contingenciamento já era prevista. Também não vou falar de minha opinião, mas sim, sobre como funciona o pensamento de um governante, indiferente de ideologias.

O texto a seguir terá uma funcionalidade semelhante ao que o livro "O Príncipe" de Nicolau Maquiavel teve ao longo dos anos. O livro tinha como intuito explicar para o governante como ele deveria agir para se manter no poder, mas ao longo do tempo, com a população tomando conhecimento de como um governante pensa e age, o livro se tornou uma ferramenta de contra-controle.

Retrato de Nicolau Maquiavel por Santi di Tito feito no século XVI.


Então vamos lá.

Para compreender melhor a necessidade da tomada de uma ação tão antipopular quanto mexer com a verba da educação e pesquisa pelo governo, devemos primeiramente olhar para o povo como mantenedor do governo. Sendo assim, o governo tem que devolver para a população serviços na área de saúde, educação e segurança, os quais foram confiados à tutela governamental e fomentados com base no pagamento de impostos. Dessa forma seria lógico que a distribuição das verbas fosse igualitária entre essas três esferas, todavia, não é assim que acontece.

Todos sabemos que os três pontos levantados são básicos, mas o raciocínio de um governante, frente a uma crise (seria leviano dizer que o Brasil não se encontra em uma crise econômica, devido tamanho o número de desempregados) é de solucionar os pontos mais imediatos, sendo que tudo o que se desenha a longo prazo acaba sendo sacrificado.

A esfera da segurança é um ponto de ação governamental de curto prazo, uma vez que sem a segurança o próprio governo se subjuga a possibilidade de perder notoriedade e soberania, sendo passível de tomada de golpes. Logo, para manter um governo funcional, o mesmo precisa ter junto as forças armadas e os corpos policiais, sendo assim, o contingenciamento de verba dessa esfera leva a queda iminente de um governo. Para compreender melhor isso, basta lembrar do que acontece quando as forças policiais fazem greve (fato esse que não pode ocorrer, pois é inconstitucional). Uma própria parcela do povo tende a tomar o controle das ruas.

A esfera da saúde também se mostra como um ponto crucial da ação governamental de curto prazo, uma vez que todos os que pagam impostos exigem o retorno de serviço que garantam sua vida. Logo, problemas na esfera de saúde sempre tendem a serem resolvidos de imediato, pois sem auxílio a saúde o povo vem a adoecer e dessa forma, menos contribuintes existirão para fomentar o governos. Obviamente, no pensamento do governante, o serviço deve ser só funcional, mas não necessariamente efetivo, dessa forma, basta contratar e ou construir instalações de saúde, com pessoal "especializado" para manter o povo em latência. Mesmo que o serviço seja ruim, respostas imediatas sempre são tomadas a fim de resolver problemas atrelados a esfera da saúde (notem que não estou falando da saúde do povo, mas da máquina institucional da saúde pública). Por isso é comum nas campanhas as promessas de construção de postos de saúde, hospitais e unidades de pronto atendimento. Em teoria, basta somente erguer o prédio para fazer com que o contribuinte acredite que está tendo o retorno de seus impostos.

Por último chegamos na esfera da educação, entretanto, ela é a única de longo prazo, uma vez que a formação das pessoas é longitudinal, ou seja, leva-se anos para que um indivíduo retribua para a população todo o investimento de impostos feito nele como um profissional (impostos que esse mesmo indivíduo pagou e paga). Para o governo se manter, não existe necessidade de um grande contingente de pessoas especializadas, uma parcela mínima já é suficiente para a manutenção da máquina estatal. Para conseguir comandar, o governante não pode ter um povo nem muito culto e nem muito desinformado. Na primeira instância, haveriam muitas críticas das atitudes do governante, já na segunda instância a comunicação entre governo e povo é prejudicada, logo, um intermediário entre o culto e o desinformado é necessário para manter o estado. Por esse fato a esfera da educação sempre é tida como uma estratégia de longo prazo. Obviamente, com uma população semi-alfabetizada, dificilmente a mesma irá se preocupar com a esfera da educação, pois no imaginário coletivo, quem já se formou no ensino médio já está alfabetizado e quem está estudando, ainda está sendo alfabetizado, o que já demonstra a efetividade da esfera educacional. 

Como um todo, para a maioria da população existem duas categorizações da educação:
1 - Ensino Fundamental: Aprender a ler e escrever e a caracterização básica da matemática, científicas naturais e dos fatos históricos e sociais.

2 - Ensino Superior: Aprender uma profissão.

Notem que a primeira categorização até pode ser aceitável, mas a segunda categorização não se limita somente ao aprendizado de uma profissão, mas também ao desenvolvimento da pesquisa. 

O primeiro grande problema desse escopo é que a pesquisa não é apresentada ao povo como uma parte integrante da dinâmica atitudinal na sociedade. Em outras palavras, a pesquisa é um bem do povo, financiada pelo povo e feita para o povo. 

O segundo grande problema é que existe uma falta de comunicação do pesquisador com todos os que financiam suas pesquisas, sendo que grande parte da produção científica não chega ao domínio público, assim, a figura do pesquisador e do estudante se tornam deturpadas ou até mesmo ausente do convívio popular.

Pela somatória desses dois problemas a Ciência é desconhecida e até mesmo não funcional. 

Trazendo agora para tomada de contingencia dos gastos públicos com a pesquisa científica, nós que estamos no mundo acadêmico podemos dizer: "Que tomada de atitude tão antipopular!", dando a impressão de ser um "tiro no pé" por parte do governo, contudo, é preciso lembrar que a população em sua grande maioria não entende ou não tem conhecimento sobre o que é Ciência, o que realmente é uma universidade e, consequentemente, o que é uma pesquisa.

Logo, infelizmente, o contingenciamento da verba federal para as universidades e para a pesquisa, só se mostra como uma consequência da crise econômica, ou algo de caráter ideológico, ou ainda vinculado à moralidade do governante para com uma parcela limitada da sociedade. Em outras palavras, os fins justificam os meios. 

Com o ideal de ser "democrático" o governante prefere manter uma ordem social do que uma ordem estratégica, uma vez que a manutenção de seu cargo se passa por atitudes imediatas em relação à maioria e não em relação à minoria.

Quem leu esse texto até aqui deve compreender um pouco melhor como um governante pensa, como ele deve agir para manter seu cargo e porque muitas vezes áreas estratégicas como a pesquisa não são tomadas como importantes para a sociedade a longo e a curto prazo. 

Em resumo: O contingenciamento da verba federal para as universidades não se caracteriza como uma atitude antipopular, mas sim lógica no que tange a manutenção do governante, uma vez que a massa nem mesmo sabe o que é uma pesquisa cientifica, onde ela é desenvolvida e para que serve.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Por que os professores não conseguem dar aula?

Esse texto se relaciona com a forma com que o ambiente escolar foi elaborado. Deve ficar claro que não estou falando da função dos professores do ensino médio, mas do que é retirado de suas funções e do que é cobrado aos mesmos. Também quero que fique claro qual a função dos “estudantes” na nossa atual sociedade.

A primeira coisa que tem que ficar claro é que um estudante não é considerado um adulto na nossa sociedade, em outras palavras, não se enquadra como uma força de trabalho, logo não pode gerar frutos instantâneos para o estado, mas sim, representam um gasto. Dessa forma, existe a necessidade de preparar esses jovens para que se tornem força de trabalho.

Como ideia fundamental, o jovem precisa somente aprender a ler e escrever para que possa se tornar força de trabalho, sendo assim, precisa saber assinar contratos, saber identificar o preço de um produto, saber o que é esquerda e direita, olhar no relógio é conseguir falar as horas, ou seja, precisa saber o mínimo de funcionalidade padrão das cosias.

Analisando essa premissa podemos dizer que não faz sentido o que se desenvolve na escola, uma vez que o conteúdo não é muito importante para que se forme força de trabalho, principalmente, para patrões vinculados ao estado. Logo, toda a máquina estatal é interessada diretamente em uma força de trabalho, a qual, não necessariamente precise de larga instrução.

Contudo, para que ocorra o contrato de uma pessoa deve haver o status de maioridade. Tomando por base essa nova característica, os jovens se tornam um “peso” na sociedade, uma vez que não devem receber grande instrução, pois tornar-se-ão críticos no futuro e dessa desqualificando um estado interferente no cotidiano. Como resultado disso as escolas são elaboradas para ser um universo marginal ao mundo dos adultos. Os jovens não devem ficarem “soltos” na rua, pois se tornariam desocupados e começariam um processo anárquico em relação ao estado.

Esse diagnóstico de como o estado pensa o ambiente escolar, tornando-o uma marginalização da sociedade, implica na segunda coisa que tem que ficar clara. Qual a função da escola e dos professores?



As escolas têm como função servir de locais fechados e que mantenham os jovens (inúteis aos olhos do estado) separados das pessoas que são funcionais ao estado. Logo o professor não tem como função ser professor, mas sim um “carcereiro” que tem que manter um grupo de “marginalizados” calmos e quietos, todos juntos e sem o uso de agressão e punições físicas.

O caráter educacional realmente se inicia, quando o jovem determina se quer prestar vestibular ou se existe o incentivo familiar para que estude. Dessa forma, a consciência de que é necessário estudar surge no fim do período escolar, sendo que na maioria das vezes os estudantes escolhem fazer um cursinho pré-vestibular. Nesse estágio o professor consegue agir como professor e o conteúdo de mais de 12 anos de estudo começa a ser relembrado durante um período de aproximadamente 1 ano. Esse fato deixa claro que o conteúdo específico oferecido nas escolas pode ser sintetizado em alguns poucos meses, implicando no fato de que o período escolar tem como função manter os jovens dentro das salas de aula e longe das ruas.

Como um todo, o professor age realmente como um professor somente no nível universitário, tendo grande autonomia e uma maior notoriedade para desenvolver as suas aulas, pesquisas, orientações, transposições didáticas e produção de conhecimento.

Em resumo, o fato que faz com que a educação seja praticamente inexistente no Brasil é que os jovens são colocados a margem da sociedade e considerados como força de trabalho futuro e não força intelectual futura. Obviamente a classe dos professores que operam no ensino fundamental e médio se encontram limitados na ação professoral, principalmente no que se refere a função didático pedagógica.

Exemplos de países que deixaram para trás essa cultura de que há primeiramente a necessidade de força de trabalho e depois a força intelectual, são os mesmos que se encontram com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais altos, como por exemplo: Países Escandinavos, Finlândia, Alemanha, Suíça, Bélgica, Inglaterra, Canadá, EUA, Austrália, Nova Zelândia, Singapura, Coreia do Sul e Japão. Mais recentemente também existe um início de modificação de pensamento no Chile também. Essas características da mudança do pensamento educacional implicam diretamente no desenvolvimento da sociedade.


domingo, 17 de março de 2019

Indícios de Reações entre Ácidos e Metais.

O vídeo a seguir apresenta um experimento que levou um mês para ser finalizado, não no sentido de que a reação é extremamente lenta, mas sim pelo fato de que quanto mais tempo passa mais visual se torna o efeito.



Na realidade as reações entre metais e ácidos são rápidas se um metal reativo entrar em contato com um ácido. Por exemplo, Lítio quando adicionado em água é reativo, se for adicionado em uma solução de uma substância que o potencializa, ele pode reagir violentamente.

No caso o Alumínio é extremamente reativo com ácidos e até mesmo com a água se a camada de óxido for removido de sua superfície. Os chamados metais nobres, como o Cobre, dificilmente reagem com ácidos, sendo que o Ouro somente pode ser atacado pela chamada água régia (1 parte de Ácido Nítrico e 3 partes de Ácido Clorídrico) que é um poderoso oxidante. Até existe uma história interessante, que conta que durante a segunda guerra, as medalhas de ouro de prêmios Nobel foram dissolvidas em água régia para que não fossem tomadas pelo exército nazista. Depois da guerra o Ouro foi novamente extraído para que as medalhas fossem cunhadas novamente. 

O Aço mais básico é composto de Ferro e Carbono, podem em alguns casos serem adicionados Níquel também e uma camada de Zinco ou Estanho na superfície. Se o aço fosse composto somente por Ferro e Carbono, ao entrar em contato com a água ou com um ácido ele duraria muito menos tempo do que quando é adicionado esses outros metais na composição, criando desde ligas e até mesmo a proteção da superfície. 

No caso as substâncias formadas na reação do vídeo são Sulfatos de Alumínio, de Cobre e de Ferro. Dentre os produtos formados o Zinabre é proveniente do gás carbônico e da água da atmosfera, assim como do ácido que evapora e se deposita sobre a superfície do cobre, como pode ser visto na figura 1.

Figura 1: O material esverdeado é o zinabre, proveniente do Cobre e, no alto da segunda imagem é possível ver um resíduo esbranquiçado, que no caso é um pouco do Sulfato de Alumínio.

Já no caso do prego se forma o Sulfato de Ferro, com coloração alaranjada, como pode ser observado na figura 2.

Figura 2: Sulfato de Ferro.
Na figura 3 é possível fazer uma comparação entre o materiais similares, sendo que um reagiu com Ácido Sulfúrico e o outro não.

Figura 3: Filete de Cobre e prego de aço oxidados.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Em breve: Como é o processo de construção de um trabalho que será apresentado a uma banca durante uma defesa.

No mês de Março, mais especificamente no dia 12/03/2019 irei passar por meu exame de qualificação do Doutoramento. Após isso, pretendo trazer um esquema de como preparar um trabalho científico, embasado em uma qualificação. 

Nessa postagem, irei explicar como o trabalho é composto, como tem que ser a semântica e como se dá o processo de arguição de uma banca.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Quais as Vantagens e Objetivos da Participação de Eventos Acadêmicos?

Essa será a primeira postagem de 2019, vou tentar manter um fluxo de ao menos uma postagem por mês. No fim dessa postagem deixo duas perguntas e suas respectivas respostas sobre as vantagens e objetivos de participação de ventos acadêmicos.

Nessa postagem vou dar acesso a um trabalho que fiz e apresentei em um simpósio na cidade de Ponta Grossa, no Paraná. Esse evento foi o SINECT (Simpósio Nacional de Ensino de Ciências e Tecnologia) e ocorreu dentro do campus da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná).

Foto 1 - Capela dentro da UTFPR

Foto 2 - Biblioteca Tecnológica Affonso Alves de Camargo.

Foto 3 - Típica árvore (conífera) dessa região do Paraná.

O meu trabalho teve o título: Estudo do Desenvolvimento do Espírito Científico em Aulas de Química Geral com a Aplicação do Método Científico. Quem quiser pode ter acesso ao PDF nos Anais do evento (basta dar um Control + F e colocar na caixinha de texto o título do trabalho).

Esse simpósio foi bastante interessante pois os trabalhos precisaram ser escritos na forma de artigos de no máximo 8 páginas. A apresentação dos mesmo se baseou em duas formas, no caso pôsteres para alguns trabalhos e para a grande maioria as chamadas sessões dirigidas.

Uma sessão dirigida se baseia em apresentações orais de no máximo uns 5-7 minutos, onde um coordenador organiza as apresentações e cria uma problemática para poder desenvolver uma discussão entre os apresentadores e também com contribuição da plateia. As sessões eram divididas em áreas temáticas, sendo que a várias ocorreram ao mesmo tempo em salas diferentes do campus da universidade. 

Além das sessões dirigidas e dos pôsteres, também ocorreram minicursos, mesas redondas, lançamento de livros e palestras com convidados nacionais e internacionais.

Foto 4 - Sensor de temperatura de baixo custo utilizado em microcontroladores (temática do minicurso que fiz durante o evento).


Qual a vantagem de participar de um evento?
A grande vantagem de participar de eventos como simpósios e congressos, não é somente a de apresentar o que você pesquisa, ou de ver novos trabalhos na sua área temática, mas sim a de criar uma rede de conexão com outros pesquisadores e instituições. Por isso, participar de eventos de abrangência nacional e, principalmente, internacional são ações imprescindíveis para um estudante. A baixo vou deixar 3 exemplos de situações que foram muito proveitosas nesse simpósio.

1) Um amigo que fiz no simpósio, recebeu um convite para tentar um mestrado acadêmico na UTFPR, detalhe, ele é de Manaus (4 mil quilômetros de distância de Ponta Grossa) e somente iria saber que sua área tem um campo forte no Paraná através do evento. Ele então tirou a sorte grande? ... NÃO! ... Isso não tem nada a ver com sorte, mas sim com espírito de querer crescer academicamente.

2) Na casa que fiquei (via Airbnb, o que deu MUITO CERTO!!!), conheci esse meu amigo que citei acima e mais um rapaz que veio da cidade de Araraquara (vizinha de São Carlos, que é onde moro). Durante a janta, nós três desenvolvemos uma discussão muito longa sobre ensino de ciências, ensino especial, epistemologia, abordagens metodológicas, política e até de música. Ou seja, discussões proveitosas como essas só acontecem quando pessoas com diferentes pontos de vista se reúnem, fato esse que dificilmente vai ocorrer dentro de um grupo onde todos pensam da mesma forma.

3) Na minha sessão dirigida conheci uma moça que apresentou um trabalho com temática de ensino de química quântica, o que foi muito interessante, pois eu tenho mestrado em uma abordagem de mecânica quântica chamada DFT - Density Functional Theory (quem se interessar sobre o que pesquisei é só clicar aqui: Dissertação). Após a sessão dirigida ficamos um bom tempo conversando sobre como essa área da química é trabalhada tanto no ensino médio quanto no ensino superior. Como o doutorado dela ruma nessa área, a nossa discussão se mostrou extremamente proveitosa para ela, uma vez que, dificilmente, alguém com o tipo da minha formação se encontra na área de educação. Ou seja, somente em eventos grandes você consegue encontrar gente com formações mais distintas possível. 

O que buscar ver num congresso ou simpósio?
Pelo contrário do que se imagina, não é o ideal participar somente de apresentações ligadas a sua área, mas sim buscar trabalhos que visam outras abordagens. Essa estratégia serve para que seu repertório frente a discussão científica cresça e, assim, seus interesses não sejam somente pontuais. Eu por exemplo, além de participar da minha sessão dirigida, a qual tinha o tema de ensino de química, também participei de sessões que envolviam políticas públicas e ensino para surdos, o que me ajudou a tomar melhores rumos quando discuto esses temas atualmente.


segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Conhecendo o Hélio

A proposta dessas postagens tem como objetivo montar uma Tabela Periódica em vídeo.O problema é o que essa empreitada se mostra bastante trabalhosa e vai levar um certo tempo para ser finalizada.

Na postagem de hoje vamos discutir um pouco sobre o segundo elemento mais simples da Tabela Periódica, em outras palavras o Hélio.


O Hélio é um elemento químico de símbolo He alocado na família dos gases nobres, ou seja, possui o nível mais externo completo. No caso desse elemento a sua camada de valência se estabiliza com 2 elétrons pois ele está no período 1 da tabela periódica. Dessa forma sua configuração é 1s2. 

Figura 1: Número Atômico do He = 2; Massa Atômica do He = 4,0026 u; Eletronegatividade do Hélio = Desconhecida; Configuração Eletrônica do He = 1s2. 

Ainda falando da estrutura do Hélio, ele possui massa atômica igual a 4 u e o seu número atômico é 2, ou seja, possui 2 prótons no núcleo.

Esse gás é incolor, inodoro, inerte e não é inflamável. Entretanto muito volátil e pouco denso. Ele é muito utilizado para encher balões meteorológicos e por não ser inflamável é o substituto do hidrogênio nos dirigíveis. Um acidente com o hidrogênio no hindemburg fez com que outra alternativa fosse buscada. 

Figura 2: Acidente do Hindenburg devido ao Hidrogênio ser inflamável. 

Além disso ele é usado como fluido de refrigeração de materiais supercondutores, em mergulhos de grandes profundidades.

No que se refere a sua abundância ele só não é mais comum que o hidrogênio no universo, entretanto na Terra só podemos encontrar traços de sua presença. Ele pode ser encontrado em algumas reservas naturais, como o gás natural.

A descoberta do Hélio ocorreu durante um eclipse em 1868 pelo francês Pierre Janssen e pelo inglês Norman Lockyer, que analisaram a cromosfera solar e encontraram uma linha de emissão desconhecida. Dessa forma foi pro posto a esse novo elemento o nome de Helium em homenagem ao deus grego do Sol, no caso Hélio.

O trabalho com o Hélio rendeu o prêmio Nobel ao físico holandês Heike Kamerlingh Onnes que conseguiu produzir hélio líquido esfriando o gás até 0,9 K. Vale ressaltar que 0 K equivale a -273 gaus Celsius. 

Além disso Ernest Rutherford foi um dos responsáveis por provar que as partículas alfa são núcleos de He. Esse fenômeno se baseia no decaimento radioativo do núcleo de um átomo de um outro elemento químico. Sendo que esse elemento passa a ser um novo elemento químico, mas com 2 prótons a menos e com 4 u a menos de massa atômica.



Um último fato interessante sobre esse elemento químico é que o Sol consegue promover a fusão nuclear de dois átomos de hidrogênio e assim produzir átomos de He.


domingo, 25 de novembro de 2018

O Primeiro Obstáculo Epistemológico.

Uma das coisas que mais chamam atenção na aulas de Química são as inesperadas mudanças dos aspectos qualitativos das substâncias. As primeiras características que mais chamam a atenção se relacionam com as mudanças de cores dos compostos e em segundo lugar as mudanças de estado físico dos materiais.

Utilizar essas estratégias para compor uma aula de Química é de extrema necessidade, entretanto, essas características, as quais são conhecidas como evidências de reação, não podem ganhar a importância química por si mesma. Em outras palavras, o efeito do chamado "Primeiro Contato" ou mesmo somente a beleza do fenômeno não pode se tornar mais importante do que o próprio fenômeno.

O efeito do Primeiro Contato é considerado como um Obstáculo Epistemológico, teoria criada pelo filósofo francês Gaston Bachelard. Segundo ele, um Obstáculo Epistemológico seria tudo ou qualquer coisa que fizesse com que um aprendiz desenvolvesse rotas errôneas em relação a um conceito. Bachelard enunciou 10 obstáculos, mas hoje vamos nos concentrar somente no primeiro deles (Primeiro Contato).


Na figura acima temos quatro soluções coloridas de sulfatos. A primeira é de Sulfato de Níquel, a segunda de Sulfato de Cobalto, a terceira de Sulfato de Cobre e a última Sulfato de Ferro. Essas soluções podem ser utilizadas para diversas reações químicas, envolvendo hidróxidos, ácidos e calor. Reações essas facilmente encontradas em livros como o Vogel.

Uma abordagem interessante para com essas substâncias é tentar utiliza-las trazendo alguma coisa do cotidiano que chame a atenção para as evidências de reação. Por exemplo, seria muito simples utilizar arquétipos das cores com a cultura popular. O verde poderia se ligar ao personagem Hulk dos quadrinhos, o vermelho ao Homem Aranha, o azul ao Capitão América e o Amarelo ao Homem de Ferro. Obviamente essa seria uma estratégia que faria os alunos chamarem a Aula de Evidências de reação de Aula dos Vingadores.



A princípio pode parecer muito legal essa abordagem, uma vez que é de extrema criatividade tomar essa temática para compor uma aula que chame a atenção e leve a uma memorização embasada nas cores. Se somente as cores dos personagens servirem de gatilho para a atenção dos alunos para com a aula de evidências de reação, não há problemas, contudo, se a temática se tornar superior ao fenômeno, a mesma adentra no aspecto de Obstáculo Epistemológico.

Um exemplo se dá com o aquecimento do Sulfato de Cobalto, o qual a se desidratar modifica sua coloração, passando de um vermelho forte para um azul escuro, como pode ser visto na figura abaixo.


Essa é a mesma reação do Galinho do Tempo, o qual indica se a atmosfera está úmida ou muito seca embasando na coloração. Se para o aluno a fenomenologia que envolve um complexo não ficar clara o suficiente, toda a problematização e contextualização foi inútil. Na temática da aula dos Vingadores, pode ocorrer um segundo agravante ainda, o aluno pode crer que com o aquecimento a solução do Homem Aranha se transforma na solução do Capitão América. Por isso, antes de se desenvolver uma aula onde o objetivo seja desenvolver as evidências de reação, existe a imprescindível necessidade de se evirar a possibilidade de contextualizações errôneas e a formação de analogias.

Como um todo para Bachelard, o aprendizado pleno somente ocorre quando o aprendiz consegue vencer todos os Obstáculos Epistemológicos em relação a um conteúdo. 

Para mais detalhes sobre os Obstáculos Epistemológicos deixo a seguir o link para download do  livro de Gaston Bachelard: A Formação do Espírito Científico.