Esse
texto se relaciona com a forma com que o ambiente escolar foi
elaborado. Deve ficar claro que não estou falando da função dos
professores do ensino médio, mas do que é retirado de suas funções
e do que é cobrado aos mesmos. Também quero que fique claro qual a
função dos “estudantes” na nossa atual sociedade.
A
primeira coisa que tem que ficar claro é que um estudante não é
considerado um adulto na nossa sociedade, em outras palavras, não se
enquadra como uma força de trabalho, logo não pode gerar frutos
instantâneos para o estado, mas sim, representam um gasto. Dessa
forma, existe a necessidade de preparar esses jovens para que se
tornem força de trabalho.
Como
ideia fundamental, o jovem precisa somente aprender a ler e escrever
para que possa se tornar força de trabalho, sendo assim, precisa
saber assinar contratos, saber identificar o preço de um produto,
saber o que é esquerda e direita, olhar no relógio é conseguir
falar as horas, ou seja, precisa saber o mínimo de funcionalidade
padrão das cosias.
Analisando
essa premissa podemos dizer que não faz sentido o que se desenvolve
na escola, uma vez que o conteúdo não é muito importante para que
se forme força de trabalho, principalmente, para patrões vinculados
ao estado. Logo, toda a máquina estatal é interessada diretamente
em uma força de trabalho, a qual, não necessariamente precise de
larga instrução.
Contudo,
para que ocorra o contrato de uma pessoa deve haver o status de
maioridade. Tomando por base essa nova característica, os jovens se
tornam um “peso” na sociedade, uma vez que não devem receber
grande instrução, pois tornar-se-ão críticos no futuro e dessa
desqualificando um estado interferente no cotidiano. Como resultado
disso as escolas são elaboradas para ser um universo marginal ao
mundo dos adultos. Os jovens não devem ficarem “soltos” na rua,
pois se tornariam desocupados e começariam um processo anárquico em
relação ao estado.
Esse
diagnóstico de como o estado pensa o ambiente escolar, tornando-o
uma marginalização da sociedade, implica na segunda coisa que tem
que ficar clara. Qual a função da escola e dos professores?
As
escolas têm como função servir de locais fechados e que mantenham
os jovens (inúteis aos olhos do estado) separados das pessoas que
são funcionais ao estado. Logo o professor não tem como função
ser professor, mas sim um “carcereiro” que tem que manter um
grupo de “marginalizados” calmos e quietos, todos juntos e sem o
uso de agressão e punições físicas.
O
caráter educacional realmente se inicia, quando o jovem determina se
quer prestar vestibular ou se existe o incentivo familiar para que
estude. Dessa forma, a consciência de que é necessário estudar
surge no fim do período escolar, sendo que na maioria das vezes os
estudantes escolhem fazer um cursinho pré-vestibular. Nesse estágio
o professor consegue agir como professor e o conteúdo de mais de 12
anos de estudo começa a ser relembrado durante um período de
aproximadamente 1 ano. Esse fato deixa claro que o conteúdo
específico oferecido nas escolas pode ser sintetizado em alguns
poucos meses, implicando no fato de que o período escolar tem como
função manter os jovens dentro das salas de aula e longe das ruas.
Como
um todo, o professor age realmente como um professor somente no nível
universitário, tendo grande autonomia e uma maior notoriedade para
desenvolver as suas aulas, pesquisas, orientações, transposições
didáticas e produção de conhecimento.
Em
resumo, o fato que faz com que a educação seja praticamente
inexistente no Brasil é que os jovens são colocados a margem da
sociedade e considerados como força de trabalho futuro e não força
intelectual futura. Obviamente a classe dos professores que operam no
ensino fundamental e médio se encontram limitados na ação
professoral, principalmente no que se refere a função didático
pedagógica.
Exemplos
de países que deixaram para trás essa cultura de que há
primeiramente a necessidade de força de trabalho e depois a força
intelectual, são os mesmos que se encontram com IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) mais altos, como por exemplo: Países
Escandinavos, Finlândia, Alemanha, Suíça, Bélgica, Inglaterra,
Canadá, EUA, Austrália, Nova Zelândia, Singapura, Coreia do Sul e
Japão. Mais recentemente também existe um início de modificação
de pensamento no Chile também. Essas características da mudança do
pensamento educacional implicam diretamente no desenvolvimento da
sociedade.