quarta-feira, 10 de julho de 2019

XII ENPEC - Impressões que ficaram.

No mês passado participei do XII ENPEC (Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências) e apresentei um trabalho onde discuti características dos livros de química do PNLD (Plano Nacional do Livro e Material Didático). O título do meu trabalho foi: Levantamento e Catalogação por Área dos Experimentos Práticos de Química Presentes nos Livros do PNLD. Quem se interessar e quiser ver o poster da apresentação oral pode encontra-lo no link acima (meu perfil do Research Gate).

O evento como um todo foi bastante interessante, pois é a primeira vez que o ENPEC ocorre na região Nordeste, no caso, sendo sediado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte na cidade de Natal. Que por sinal é um local de extrema beleza, com praias muito bonitas e que no meio do ano, por ser inverno, as mesmas permanecem mais vazias. 

Figura 1: Ondas quebrando nas rochas.

Figura 2: Maravilhosa faixa de terra que se estende na direção do mar.

Todavia, o evento não é de turismo, mas sim de discussão sobre a área de ensino de ciências. O grande problema que notei no evento foi o enviesamento político. Obviamente o XII ENPEC tentou homenagear Paulo Freire (por isso de tanta discussão política) e uma professora chamada Marta Pernambuco. 

Eu percebo que discutir política e características sociais é importante, entretanto, existe uma necessidade de dosar isso, uma vez que, o objetivo que deveria ser alcançado (nesse caso o ensino de ciências) é  deixado de lado. É a mesma história de considerar a interdisciplinaridade algo mais importante do que a disciplinaridade. Não tem como eu falar de interdisciplinaridade se as bases mínimas não forem supridas. O mesmo se aplica ao tema ensino de ciências, para poder desenvolve-lo existe a necessidade de compreender sua base. Nesse caso, a base não se encontra exclusivamente nas temáticas políticas. 

Por incrível que pareça, dia após dia está mais difícil discutir Química, Física e Biologia com os professores da área de ciências. E isso vem ocorrendo pois, na graduação, o aluno que visa seguir carreira de professor é retirado do ambiente científico, dos laboratórios e das pesquisas de iniciação científica, para estudar características sociais. Na realidade um licenciando é quem precisa mais pisar no laboratório e gastar seu tempo com pesquisa em bancada. Não existe forma alguma de se ensinar Química em alto nível sem quebras de paradigma. O aluno que quer ser professor TEM necessidade de saber preparar um experimento, usar equipamentos laboratoriais e discutir em nível científico de sua área. Antes de ser um educador o aluno tem que compreender que ele é um Químico, ou um Físico, ou um Biólogo. Entretanto, não é isso o que vem ocorrendo.

Quando se questiona muitos alunos do último ano de licenciatura em qualquer área da ciência sobre como eles definem o termo "Ciências", os mesmo cometem o erro de considera-la como a própria natureza. E esse é um problema GRAVÍSSIMO! 

Muitas poucas pessoas conseguem compreender que a ciência só existe pelo simples fato do ser humano um dia começar a investigar a natureza e promover os famosos relatórios de dados (Agora você entende a necessidade de fazer relatórios!). A ciência como um todo deveria ser definida pelos formandos como sendo um modelo de interpretação da natureza, ou uma ferramenta que serve para promover a transposição do abstrato que se encontra na natureza para uma linguagem inelegível.

Logo os aspectos mais fundamentais da ciência não vem sendo discutido nesses eventos, o que  acaba por direcionar a forma com que os currículos serão elaborados para as próximas gerações de estudantes. É OBVIO que essa atitude terá graves consequências no futuro. Um evento de ensino de ciências (estou generalizando para todos os que vem ocorrendo nos últimos anos) tem que discutir mais ciência, para que a mesma norteie como os currículos devem ser elaborados.

Não adianta um aluno fazer um curso de Química e sair sem saber Química, pois o conteúdo do professor é completamente limitado.

Não adianta um professor de Química ter o diploma e não saber produzir uma solução de 0,5 mol de Sulfato de Cobre, partindo de 0,1 mol de Ácido Sulfúrico e 1,0 mol de Cloreto de Cobre. É laro que esse é um exemplo grosseiro, mas que se mostra uma grande barreira para uma infinidade de professores (em alguns casos o professor tem até medo de chegar perto do material laboratorial). 

Isso é extremamente preocupante.

Características das apresentações:
As apresentações no ENPEC se deram na forma de sessões dirigidas tematizadas (a minha foi sobre currículo), onde o poster de cada participante era projetado em um telão. Cada um tinha 10 minutos para apresentar, sendo que cada sessão continha em torno de uns 8 participantes. Após isso houve um momento de discussão (cerca de 40 minutos), onde a plateia e os próprios participantes podiam fazer perguntas entre si. Cada sessão dirigida levava em torno de umas 2 horas, sendo que diversas apresentações eram desenvolvidas simultaneamente por todo o campus da UFRN.

Também houve uma feira de livros, onde pude adquirir um exemplar da autobiografia do Planck e também o famoso livro Pálido Ponto Azul, de Carl Sagan.  
Figura 3: Livros que comprei na feira do livro da física.


segunda-feira, 1 de julho de 2019

Dois dedos de epistemologia - Uma conversa muito rápida mesmo!

É bastante interessante como o pensamento humano vai se alterando com tempo. Bem antes de Immanuel Kant, já se acreditava nas ideias de se acessar as informações de um observável, mesmo não se revelando em sua totalidade, fato esse que Kant criticava dentro de seu positivismo. Segundo ele enquanto o homem pensava ele se adequava aos animais, mas quando agia se adequava aos anjos. Kant sob o exemplo de um cavalo dizia que não haveria forma de acessar sua totalidade se o mesmo estivesse de costas para você, uma vez que todos os lados e facetas do animal não se mostravam em sua totalidade, logo, o homem jamais poderia compreender a realidade. Para Kant ainda existia uma necessidade de espaço, sendo uma crítica a Tomás de Aquino que dizia que existiam extensões de corpos dentro do que tange o real. Logo, para acessar uma totalidade, haveria uma necessidade implícita de se determinar a realidade dentro de um espaço. Dessa forma, para compreender o mundo, existe a dependência de um "a priori".

          Figura 1 - Immanuel Kant

Segundo Kant também temos os fenômenos e os nômenos. Os fenômenos se caracterizam com o acesso a uma realidade proveniente do ato de inteligir, em outras palavras a realidade distorcida. E isso se dava, segundo Kant, pois o inteligir não garante o contato com uma realidade verdadeira, uma vez que não existe garantia de sua efetividade. Assim, quando o homem age, ele se coloca em contato com o mundo real e dessa forma com os nômenos, que se caracterizavam como a realidade tal qual ela é.

É uma discussão interessante, mas que por um bom tempo matou a metafísica. O grande problema é que a metafísica garante a possibilidade de pensarmos e projetar observáveis fora da realidade, assim como Mendeleev fez com a tabela periódica. Se não fosse a capacidade de prever as facetas externas da realidade, jamais seria possível de se determinar elementos que ainda não tinham sido descobertos.

Figura 2 - Dmitri Mendeleev

Logo, podemos dizer que Kant foi responsável por atrasar um longo período da Ciência, levando a concretização do positivismo de Auguste Comte, o qual dizia que a única verdade era a que provinha da Ciência e do processo metodológico da mesma. A religião seria charlatanismo assim e tudo o que não pudesse ser explicado via o empirismo jamais poderia ser real. Comte ainda tentou criar a física social, uma vez que a física explicaria tudo e refutaria a metafísica. Essa "física social" se tornou a sociologia.

Figura 3 - Auguste Comte

O positivismo começou o seu declínio no início do século XX, sendo totalmente sepultado na década de 1960, por filósofos como Gaston Bachelard e Thomas Kuhn.

Figura 4 - Gaston Bachelard
Figura 5 – Thomas Kuhn