Em 1896, Antoine Henri Becquerel fez uma descoberta singular,
ele percebeu que alguns cristais de sais de Urânio conseguiam enegrecer filmes
fotográficos, em outras palavras, expor as películas a esses sais era a mesma
coisa que os expor ao raio-X, descobertos um ano antes por Roentgen. Esse
mineral a base de Urânio parecia liberar raios invisíveis e tão energéticos
quanto a luz solar. Esses raios ficaram conhecidos por um curto período de
tempo como Raios B, de Becquerel. Estava aí descoberta a radiação nuclear
natural.
O prêmio Nobel de Física de 1903, foi um dos mais épicos da
história, pois laureou Becquerel junto a Marie e Pierre Curie, que estudaram e
isolaram o Polônio e o Rádio. O reconhecimento desses três cientistas
fundamentou a radioatividade como uma característica real da matéria. Isso nos
levou a compreensão de que existia uma força fundamental da natureza que
auxiliava no decaimento dos núcleos atômicos.
Apesar de Becquerel ser o pai da radioatividade, a família Curie foi quem teve grande empenho na área, sendo que a filha do casal Curie, Irène Juliot-Curie, junto ao seu marido Jean Frederic Juliot-Curie, foram os responsáveis pela descoberta da radiação artificial. Garantindo em 1935 o Nobel de Química a eles também, o que é fantástico, pois os Curie tornaram-se a família com mais prêmios Nobel da história. Um fato bastante interessante é que Jean Frederic Juliot aderiu o nome dos Curie devido a importância dos progenitores de Irène. Dessa forma, Irène não teria que usar o nome Juliot depois de Curie. Obviamente, essa era uma cultura da época, e se não ocorre a aceitação de Jean, eles não poderiam se usar dos “benefícios” do nome Curie.
Deixando a fantástica história dessa família de lado, a
descoberta da radiação artificial, foi tão, ou mais impressionante, do que a
descoberta da radiação natural, pois levou a humanidade a conquista da produção
de materiais sintéticos, em outras palavras, elementos químicos que não existem
naturalmente.
Essa incrível façanha dos Juliot-Curie ocorreu no ano de
1934, quando eles conseguiram gerar o isótopo radioativo de Nitrogênio a partir
do bombardeamento de Boro com partículas alfa, ou seja, núcleos de Hélio. Eles
fizeram o mesmo para a produção de átomos radioativos de Fósforo, com o
bombardeamento de átomos de Alumínio com partículas alfa.
Esses isótopos não existiam na natureza e, como consequência, foi um processo de transmutação elementar, em que o alvo inicial tinha sido alcançado. A primeira transmutação foi feita por Rutherford em 1919, contudo, não havia um real objetivo de geração de um elemento em específico. Nesse caso, Rutherford bombardeou Nitrogênio com partículas alfa, produzido Flúor radioativo, o qual decaiu para oxigênio no processo de decaimento beta.
É claro que só a transmutação dos elementos já seria algo fantástico, entretanto, diferente do Oxigênio de Rutherford, os elementos gerados pelos Juliot-Curie se demonstraram radioativo, ou seja, uma fonte sintética de radioatividade. Esse fato abriu um caminho imenso para que a humanidade pudesse começar a trabalhar para a geração de materiais com pouca quantidade de matéria, mas que gerassem bastante energia pelo processo de radiação artificial.
Obviamente que a descoberta dos Juliot-Curie serviu de base
para a criação de outros radioisótopos, mas algo mais fascinante ainda estava
por vir, no caso, o grupo de pesquisas de Otto Hahn e Lise Meitner conseguiu
gerar um efeito que produziu uma grande quantidade de energia. Esse processo
eles chamaram de Fissão Nuclear, em outras palavras, o núcleo atômico havia
sido partido em dois e liberado muita energia.
Posteriormente, no início dos anos 1940, na Universidade de
Berkeley, foram produzidos os elementos transurânicos Netúnio e Plutônio, que
são sintéticos e radioativos.
Logo, a descoberta da radiação artificial abriu as portas
para a geração de energia com elementos sintéticos, como ocorrem nas usinas
nucleares. Atualmente, a ideia é conseguir fazer o processo inverso ao da
fissão nuclear, ou seja, conseguir fundir núcleos de isótopos do hidrogênio
para a geração de Hélio e energia acumulada nos núcleos dessas espécies.
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