Atualmente iniciei o doutorado na USP, mais especificamente no IQSC, entretanto, não estou mais trabalhando na área de pesquisa aplicada, onde fiz meu mestrado em química teórica (para quem não sabe o que é química teórica em breve farei um texto falando sobre essa área, mas fica a priori a explicação resumida: Química Computacional), sendo que hoje retornei para a minha área de formação mais específica, que é a licenciatura.
Meu projeto envolve o estudo do desenvolvimento do espírito científico dentro de uma abordagem de ensino de química, usando maquetes científicas no âmbito de ambientes não-formais. Mas, não quero ficar falando sobre meu projeto propriamente dito. Hoje eu quero explicar sobre as burocracias iniciais que existem na estrada no universo da pós-graduação.
Essa transição entre graduação e pós-graduação pode ser muitas vezes traumática ao ex-graduando, pois a cobrança frente ao caráter profissional começa a ser mais recorrente, ou seja, o status de simples aluno começa a ser ultrapassado e a pessoa se vê na necessidade de expor suas competências. Dessa forma, é importante ao graduando começar a pensar se quer fazer pós-graduação já nos últimos anos do curso. Em outras palavras, é interessante o aluno já ir pensando qual frente lhe apetece mais.
Além disso, também é importante o estudante buscar em seu currículo quais são os melhores trabalhos que produziu durante a graduação. Dessa forma, é interessante manter o currículo sempre atualizado, para que não perca tempo durante a inscrição para o mestrado ou doutorado direto. Na minha opinião é muito bom usar a Plataforma Lattes (Em homenagem ao físico brasileiro César Lattes) que é um site da CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Nessa plataforma o usuário disponibiliza publicamente o próprio currículo, expondo desde participação em eventos científicos, até mesmo artigos publicados e projetos desenvolvidos. É uma forma para alunos de fim de curso, além de organizar seus dados, para depois usarem os mesmos na inscrição de uma pós-graduação, também é uma ferramenta de maior conhecimento sobre profissionais da área escolhida.
Figura 1: Entrada do site da Plataforma Lattes. |
Voltando agora às características específicas da pós-graduação, os cursos brasileiros buscam garantir a internacionalização dos cursos, dessa forma, além de organizar a empregabilidade também é imprescindível se preparar em uma língua estrangeira, sendo que, é de praxe o inglês.
Alguns programas de pós-graduação em ciências naturais (como no caso o IQSC), cobram já na matricula para a pós-graduação (seja mestrado ou doutorado) a proficiência em inglês, em outras palavras, após ter passado na prova de classificação, seja com bolsa ou sem bolsa, o aluno tem que comprovar já na matrícula que tem competência em inglês. Em geral, as provas de inglês para o mestrado são bem simples e, buscam garantir que o ingressante tenha ao menos a capacidade de ler e interpretar um texto em inglês. No IQSC é aceito a modalidade TEAP (Test of English for Academic Purpose) para ingressantes no curso de mestrado, que se baseia em leitura de texto e questões sendo respondidas em português. Entretanto no doutorado o IQSC cobra como mínimo a modalidade WAP (Writing for Academic Purposes), sendo que nesse tipo de prova todas as questões são em inglês, os textos são em inglês e as respostas devem ser em inglês.
Em outras instituições, por outro lado, já se cobra o TOEFL (Test of English as a Foreign Language), o qual busca uma análise mais aprofundada, onde o aluno faz testes desde escrita e leitura, até mesmo aos testes de interpretação de textos falados. O TOEFL geralmente é mais cobrado a nível de doutorado, mas como critério inicial é importante o aluno se preocupar com o tipo de prova de vigente no programa do curso escolhido. Em várias instituições, como por exemplo na pós-graduação do Departamento de Química da UFSCar, a proficiência em língua estrangeira pode ser entregue dentro de um período específico do curso, entretanto, sempre antes da qualificação e da entrega do documento base do projeto.
Dependendo do programa de pós-graduação nem sempre é preciso fazer uma prova escrita para se ingressar no mestrado ou no doutorado. No IQSC, para que se inicie o curso de mestrado há a necessidade de se fazer uma prova de química geral, sendo que existe número mínimo e máximo de ingressantes, ou seja, o concorrente precisa alcançar um valor mínimo de pontos para conseguir ingressar no mestrado. Tanto para o mestrado quanto para o doutorado, a prova é a mesma, sendo que, por ser uma prova desenvolvida pelos professores do instituto, ela pode variar em número de questões, se será discursiva ou de múltiplas escolhas, se é em português ou em inglês. Em outros programas é mais comum uma prova discursiva, entretanto também pode ocorrer entrevistas e análise de currículo como critérios únicos de seleção. A análise de currículo aliada de uma prova se mostra o mais comum em todos os programas de pós-graduação, entretanto é muito importante ler o edital com cuidado. No curso de doutorado do IQSC existe ainda a possibilidade de fluxo contínuo, ou seja, não é necessário o ingressante fazer a prova de química (que nesse caso tem maior função de classificação para bolsa), sendo que, somente é feita a análise do currículo do ingressante juntamente com sua proficiência em inglês.
Quando se determina que a pós-graduação é o caminho a ser tomado, é interessante o aluno durante a graduação mesmo, já ir conversando com algum professor e desenvolver algum projeto de iniciação científica, para que dessa forma, além de gerar produções para o currículo, também consiga compreender se uma determinada área realmente é a que se tem mais aptidão. É extremamente comum mudanças de área dentro da pós-graduação, pois a pessoa não se preparou muito bem. No meu caso, eu resolvi ir trabalhar com química teórica, pois no meu curso de licenciatura não foi oferecida a frente de quântica, então achei interessante para meu currículo procurar algo que fortalecesse esse viés. Geralmente ir na direção de algo que você não domina é algo bastante complicado, pois, o universo da pós-graduação cobra uma posição mais profissional do indivíduo e, na maioria das vezes, quando ocorre essa modificação de frente, o aluno acaba ficando perdido ou seu trabalho demora para gerar frutos.
Então, a busca durante a graduação por uma área a ser seguida é de extrema importância, pois ajuda a preparar o currículo, principalmente para candidatos que escolhem a opção de doutorado direto. Para essa modalidade, existe a necessidade de um currículo muito forte, com publicações de artigos durante a graduação (principalmente como primeiro autor), além de possíveis experiências no exterior, bons estágios e até mesmo com desenvolvimento de patentes. Além disso o currículo acadêmico deve ser impecável sem reprovações e excelentes notas. É claro que isso é bastante difícil, mas não impossível, se não, a modalidade nem mesmo existiria (e nem é tão difícil encontrar pessoas fazendo doutorado direto nas universidades).
Depois disso tudo, alguns programas exigem que o ingressante entregue em curto período de tempo o projeto de pesquisa, o qual é analisado rigorosamente. Nesse caso se o mesmo não for aprovado, o ingressante perde a vaga e, isso não é tão raro, sendo que existem vários casos de alunos que ingressaram no programa e perderam a vaga pois não se prepararam para a escrita de um bom projeto. Por isso, é importante buscar contato com professores antes mesmo de fazer a prova da pós-graduação ou de qualquer processo seletivo. Isso é importante pois o docente pode ter algum projeto sendo escrito, ou mesmo já escrito, o que pode ajudar muito o ingressante. Eu quando entrei no mestrado não tive que escrever o projeto, pois meu orientador já tinha um pronto para se iniciar o trabalho, tanto que, mal entrei no mestrado e já comecei a trabalhar a todo vapor. Já no doutorado é de praxe que o aluno escreva sozinho seu projeto, uma vez que se espera um maios domínio desde a escrita científica, levantamento bibliográfico e principalmente na capacidade argumentativa no que tange a defesa de uma ideia.
Um projeto de pesquisa inicialmente se baseia em uma ideia do que se pretende trabalhar, sendo que o mesmo é dividido em pelo menos cinco partes: Resumo, Introdução, Estado da Arte, Metodologia e Referencias. Em geral os programas cobram umas vinte páginas, incluído capa e a bibliografia. A parte de bibliografia, ou os referenciais teóricos está ligado diretamente ao estado da arte, uma vez que nessa parte o autor cita as principais fontes e trabalhos mais modernos dentro da pesquisa que deseja desenvolver. A critério de projeto de pesquisa é comum serem mencionadas umas trinta referências bibliográficas, o que a nível de mestrado corresponde a praticamente um terço do que se tem dissertações na área de ciências (notem que isso é uma característica bastante específica, outras frentes como humanas e biológicas isso pode variar muito). Algo que pode ser citado no projeto de pesquisa são os resultados esperados, o que trás ao leitor uma impressão de maior coesão e solidez frente a proposta de pesquisa, sendo que esse tópico é adicionado entre a metodologia e as referências, pois concatena o forma que a pesquisa será desenvolvida, o conjunto de técnicas e os referenciais teóricos.
Além do projeto de pesquisa, dentro da área de pesquisa aplicada em ciências naturais e engenharias, é bastante comum os programas de pós-graduação cobrarem uma busca por patentes referente ao seu projeto de pesquisa. Em outras palavras, após o ingressante entregar sua proposta de pesquisa existe a necessidade de comprovar que ela é inédita dentro do escopo da pesquisa, sem que haja algum plágio ou mesmo patentes iguais. Para se evitar isso existem diversas plataformas de procura de patentes, sendo o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) a principal no ambiente nacional. Outras
Figura 2: Entrada do site da plataforma de pesquisa por patentes do INPI. |
Alguns outros exemplos de plataformas de pesquisa por patentes, mas no âmbito internacional são:
Podemos finalizar todo o caráter burocrático do ingresso na pós-graduação com um resumo:
1 - A pós-graduação se inicia na graduação:
A pessoa que pensa em fazer pós-graduação tem que se preparar na área que escolheu, desde a parte específica para a seleção (seja prova ou entrevista) até mesmo na língua estrangeira, além disso a busca por contatos com professores que possam orientar na graduação e assim dar continuidade ou ajudarem na escolha do caminho a ser trilhado é imprescindível.
2 - Língua estrangeira:
Não perca tempo para iniciar os estudos em uma língua estrangeira (eu cometi esse erro), principalmente o inglês dentro das ciências naturais e engenharias. A maioria dos eventos que ocorrem no ambiente acadêmico são em inglês, além do que, os artigos das revistas mais importantes, mesmo que não seja americanas ou inglesas, costumam publicar em inglês, pois essa é a língua mais comum dentro do universo acadêmico e científico.
3 - Ingressando na Pós-Graduação:
A primeira coisa a ser feita quando se escolhe fazer uma pós-graduação é ler atentamente o edital, para se ter noção do conteúdo a ser cobrado na seleção, qual o tipo de seleção ocorrerá, se a proficiência pode ser entregue depois da matrícula, se o projeto tem que ser entregue na matrícula, se a seleção é paga, se a prova ocorre somente no campus da instituição, quais são as áreas que o ingressante pode se inscrever, quais documentos devem ser separados para a inscrição e para a matricula. Ou seja, deve-se estar preparado desde o início para as burocracias, sendo interessante isso pois, em geral, os documentos são sempre os mesmos para diversas instituições (caso o aluno queira prestar prova em mais de uma instituição).
4 - Projeto de Pesquisa:
O projeto de pesquisa é intimamente ligado com o contato inicial com o orientador, por isso, é importante antes mesmo de iniciar o processo burocrático conversar com professores de universidades (caso o ingressante quiser prestar a seleção de pós-graduação em mais de uma instituição), e perguntar quais tipos de projetos o docente está interessado em desenvolver no período, ou se já tem alguma proposta iniciada e precisa de alguém para continuar o projeto, ou ainda mesmo se concorda em desenvolver uma proposta do próprio aluno. E também é claro, adequar o projeto dentro de uma busca de patentes, reescrevendo o documento quando necessário para diferenciar de possíveis projetos já trabalhados.
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