segunda-feira, 1 de abril de 2019

Por que os professores não conseguem dar aula?

Esse texto se relaciona com a forma com que o ambiente escolar foi elaborado. Deve ficar claro que não estou falando da função dos professores do ensino médio, mas do que é retirado de suas funções e do que é cobrado aos mesmos. Também quero que fique claro qual a função dos “estudantes” na nossa atual sociedade.

A primeira coisa que tem que ficar claro é que um estudante não é considerado um adulto na nossa sociedade, em outras palavras, não se enquadra como uma força de trabalho, logo não pode gerar frutos instantâneos para o estado, mas sim, representam um gasto. Dessa forma, existe a necessidade de preparar esses jovens para que se tornem força de trabalho.

Como ideia fundamental, o jovem precisa somente aprender a ler e escrever para que possa se tornar força de trabalho, sendo assim, precisa saber assinar contratos, saber identificar o preço de um produto, saber o que é esquerda e direita, olhar no relógio é conseguir falar as horas, ou seja, precisa saber o mínimo de funcionalidade padrão das cosias.

Analisando essa premissa podemos dizer que não faz sentido o que se desenvolve na escola, uma vez que o conteúdo não é muito importante para que se forme força de trabalho, principalmente, para patrões vinculados ao estado. Logo, toda a máquina estatal é interessada diretamente em uma força de trabalho, a qual, não necessariamente precise de larga instrução.

Contudo, para que ocorra o contrato de uma pessoa deve haver o status de maioridade. Tomando por base essa nova característica, os jovens se tornam um “peso” na sociedade, uma vez que não devem receber grande instrução, pois tornar-se-ão críticos no futuro e dessa desqualificando um estado interferente no cotidiano. Como resultado disso as escolas são elaboradas para ser um universo marginal ao mundo dos adultos. Os jovens não devem ficarem “soltos” na rua, pois se tornariam desocupados e começariam um processo anárquico em relação ao estado.

Esse diagnóstico de como o estado pensa o ambiente escolar, tornando-o uma marginalização da sociedade, implica na segunda coisa que tem que ficar clara. Qual a função da escola e dos professores?



As escolas têm como função servir de locais fechados e que mantenham os jovens (inúteis aos olhos do estado) separados das pessoas que são funcionais ao estado. Logo o professor não tem como função ser professor, mas sim um “carcereiro” que tem que manter um grupo de “marginalizados” calmos e quietos, todos juntos e sem o uso de agressão e punições físicas.

O caráter educacional realmente se inicia, quando o jovem determina se quer prestar vestibular ou se existe o incentivo familiar para que estude. Dessa forma, a consciência de que é necessário estudar surge no fim do período escolar, sendo que na maioria das vezes os estudantes escolhem fazer um cursinho pré-vestibular. Nesse estágio o professor consegue agir como professor e o conteúdo de mais de 12 anos de estudo começa a ser relembrado durante um período de aproximadamente 1 ano. Esse fato deixa claro que o conteúdo específico oferecido nas escolas pode ser sintetizado em alguns poucos meses, implicando no fato de que o período escolar tem como função manter os jovens dentro das salas de aula e longe das ruas.

Como um todo, o professor age realmente como um professor somente no nível universitário, tendo grande autonomia e uma maior notoriedade para desenvolver as suas aulas, pesquisas, orientações, transposições didáticas e produção de conhecimento.

Em resumo, o fato que faz com que a educação seja praticamente inexistente no Brasil é que os jovens são colocados a margem da sociedade e considerados como força de trabalho futuro e não força intelectual futura. Obviamente a classe dos professores que operam no ensino fundamental e médio se encontram limitados na ação professoral, principalmente no que se refere a função didático pedagógica.

Exemplos de países que deixaram para trás essa cultura de que há primeiramente a necessidade de força de trabalho e depois a força intelectual, são os mesmos que se encontram com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais altos, como por exemplo: Países Escandinavos, Finlândia, Alemanha, Suíça, Bélgica, Inglaterra, Canadá, EUA, Austrália, Nova Zelândia, Singapura, Coreia do Sul e Japão. Mais recentemente também existe um início de modificação de pensamento no Chile também. Essas características da mudança do pensamento educacional implicam diretamente no desenvolvimento da sociedade.